Claude Lévi-Strauss - As estruturas elementares do parentesco (1982, Editora Vozes) - libgen.lc

(Flamarion) #1

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A leste do eixo estende-se uma zona de migrações, invasões e con·
quistas, que não permite esperar encontrar no local sistemas antigos.
Contudo, nenhuma dúvida é posslvel no que se refere a uma vasta parte
da Indonésia. Aos Batake e aos Lubu matrilaterais - os primeiros com
uma curiosa extinção da proibição patrilateral no fim de três gerações,
o que lembra os fenõmenos periódicos mencionados no parágrafo pre-
cedente - é preciso acrescentar várias populações das segulntes regiões:
Nias, Geram, Tanimbar Kei, Flores, Sumba e Molucas, onde o casamento
com a filha do irmão da mãe é claramente comprovado.' Mas atingimos
logo a seguir a fronteira além da qual começa a troca restrita. Observam·se
formas de casamento bilateral em Endeh e Manggarai, Flores, Keisar, Aru,
LeU, Moa, Lakor.' Foi postulada para Java, antes da conquista hindu, a
existência antiga de classes matrimoniais de tipo Aranda, com troca de
irmãs. Estas classes sobreviveriam ainda - ao menos como vestlgios -
em 'Sumatra, na Indonésia oriental, e teriam assim podido apresentar,
outrora, uma distribuição continua até a Nova Guiné. Sua presença ano
,iga continuaria demonstrada pela organização social bilateral, embora
desprovida de clã, em toda a área considerada, sobretudo em certos
distritos de Flores e de Alor. Em Bornéu e nas Célebes subsistem sem·
pre enclaves onde se afirma ora a predominância matrilinear ora a pa·
trilinear.' Estas tentativas de reconstrução devem ser acolhidas com
grande prudência.
O sistema: fidjiano contribui, em todo caso, com uma preciosa indi·
cação. Foi dÍlrante muito tempo considerado como exemplo caracteristico
do casamento entre primos cruzados bilaterais, mas os estudos recentes
limitam e definem melhor esta interpretação. As relações entre grupos
patrilineares mbito, na parte ocidental de ViU Levu, sugeririam muito a
troca generalizada. Contudo, e de modo geral, o casamento dos primos
cruzados seria mais raro do que pareceu outrora, e ocorreria sobretudo
com a prima patrilateral.' Como o crescente patrilateraIlsmo acompanha
o declínio da troca generalizada na índia, poderia acontecer que a mesma
manifestação em Fidji marcasse a fronteira oriental da área ocupada
predominantemente por esta forma de troca.
Temos grande tentação de situar na base do eixo da troca generali·
zada, e perpendicularmente a ele, um eixo de troca restrita, orientado no
sentido noroeste-sudoeste, estendendo-se do sul da índia à Nova Cale·
dÕnia, passando pela Austrália. Para que esta sedutora construção fosse
viável, seria preciso entretanto que os sistemas indianos fossem bilaterais,
e vimos que seu bilateralismo aparente é um caráter pseudomórfico, isto
é, as organizações com metades encontradas na índia se assemelhariam
exteriormente às da Austrália, mas sendo, na realidade, de outra natureza.
Além do mais, só a Austrália oferece formas puras de troca restrita, e


  1. E. M. Loeb, Patrilineal and Matrtl1neal Organization in Sumatra. American Anthro-
    pologist, vo1. 35, 1933.

  2. Ibld,

  3. Ibid., C. Tj. Bertling, Huwverbod op grond van verwantschapsposities in Middel
    Java. Induch Ttjdschrift van het Recht, vaI. 143, n. 2, 1936; R. Kennedy, A Survey
    01 lndonesian Civilization, em Essays in the Science of Society Presented to A G.
    Keller, New Haven 1937, p. 290; The "Kulturkreislehre" Moves into Indonesia. AmeTÍcan
    Anthropologist, vaI. 41, 1939.

  4. A. Capell e R. H. Lestes, Local Divisions and Movements in Fiji, Oceania, voI.
    11-12, 1940-1942, p. 319; Kinship in Fijf, op. cit., voI. 14, 1945, p. 171.


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