índios, escreve Colbacchini a propósito dos Bororo, entre os quais fizemos
a observação citada no parágrafo precedente, o celibato não existe e nem
mesmo é imaginado, porque não se admitiria sua possibilidade"." Igual-
mente "os pigmeus desprezam os solteiros e zombam deles como de se-
res contra a natureza"." Radcliffe Brown observa: "Um individuo foi-me
assinalado como uma pessoa perigosa porque tinha recusado unir-se a
uma mulher numa idade em que se considera conveniente para um ho-
mem casar-se". ~~ Na Nova Guiné, "o sistema econômico e as regras tra-
dicionais da divisão do trabalho entre homem e mulher fazem da vida
comum entre os sexos uma necessidade. Na verdade, todos devem alcan-
çar este estado, exceto os doentes"." "Entre os Chukchee da rena, nin-
guém pOde levar uma vida suportável sem sua própria casa e uma mu-
lher para tomar conta dela... Um adulto solteiro inspira geral desprezo.
É um inútil, um preguiçoso, um vagabundo que vagueia de acampamento
em acampamento". 2~
Gilhodes escreve a respeito dos Katchim da Birmânia: "Quanto ao
celibato voluntário, parece que nem mesmo têm idéia do que seja. É
uma grande glória para um katchim casar-se e ter filhos, sendo uma ver-
gonha morrer sem posteridade. Pode-se entretanto ver alguns raros sol-
teirões e solteironas, mas são quase sempre fracos de espírito, ou pes-
soas de caráter impossível, e quando morrem fazem-lhes uma caricatura
de enterro... São conhecidos alguns raros solteiros velhos de ambos
os sexos. Durante a vida têm vergonha de sua condição, e no momento
da morte fazem medo, particularmente às pessoas moças... Estas não
tomam parte nas cerimônias funerárias, com receio de serem incapazes
de estabelecer uma família... Os ritos são observados sobretudo pelos
velhos dos dois sexos, e de maneira ridícula... Todas as danças são
executadas às avessas",2H
Terminemos pelo Oriente esta visão geral: "Para um homem sem mu-
lher não há paraíso no céu nem paraíso na terra... Se a mulher não
tivesse sido criada não haveria nem sol nem lua, não haveria agricul-
tura nem fogo". Tal como os Judeus orientais e os antigos Babilônios,
os Mandeano consideram o celibato um pecado. Os solteiros de um e
outro sexo (especialmente os monges e as monjas) são entregues sem
defesa ao comércio com os demônios, de que nascem os maus espíritos
e os gêniOS maléficos que perseguem a espécie humana. J" OS índios Na-
vaho participam da mesma teoria, segundo a qual mesmo nos três pri-
meiros dos quatro mundos inferiores subsistem a distinção dos sexos
e suas relações, tão grande é a dificuldade que os indígenas têm de
imaginar uma forma de existência. mesmo a mais baixa e miserável. onde
não haja o benefício dessa distinção". Mas os sexos são separados no
quarto mundo, e os monstros são fruto da masturbação a que cada
sexo se acha reduzido. '"
- A. COlbacchini, Os BOTOTOS orientais, trad. portug. São Paulo 1942, p. 51.
- P. Schebesta, Revisiting ... , p. 138. '
- A. R. Radcliffe Brown, The Andaman Islanders, cambridge 1933, p. 50·51.
- R. Thurnwald, Bánaro Society. Social Organization and Kinship System of a
Tri"~e. in the Interior of New Guines. Memoirs 01 the Amecan Anthropological As·
Soctatwn, vaI. 3, n. 4, 1916, p. 384. - W. Bogaras, The Chukchee, p. 569.
- C. Gilhodes, The Kachins; their Religion and Mythology, Calcutta 1922, p. 255
e 277. - E. S. Dr,?we, The Mandaeans of lraq and Iran, Oxford 1937, p. 17 e 59.
- G. A. Relchard, Navaho Religion: a Study in Symbolism, ms., p. 662.
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