No dia 1º de abril, me chamou na sala dele pedindo que eu falasse com
alguns médicos que estavam lá. Eu estava numa reunião com a indústria
farmacêutica e respondi: “Olha presidente, vocês já começaram aí e eu estou
em outra reunião. Toca aí e o senhor depois me comunica o que é”. Ou seja,
ele estava conversando com médicos sobre a crise do novo coronavírus e só
me chamou quando a reunião já estava em andamento.
Foi nesse dia que percebi que ele estava convocando por conta própria
pessoas alinhadas à política que ele achava adequada, que era a da defesa da
cloroquina e a da abertura da economia. Durante essa ligação, comentei que
soube que ele havia chamado a Ludhmila Hajjar, que é goiana e médica do
Hospital Sírio-Libanês, para uma conversa. Ele falou: “Eu mandei puxar a
capivara dessa Ludmila e não gostei muito do que vi, não. Eu prefiro um
pessoal mais alinhado com as nossas teses”. Perguntei quais eram as “nossas”
teses. A resposta foi “esse negócio de isolamento não dá”. Então encerrei a
conversa desejando boa reunião.
Eu não podia fazer nada. Ele queria no seu entorno pessoas que dissessem
aquilo que ele queria escutar. E o que ele queria escutar era que a cloroquina
era a salvação. Vamos dar esse remédio e pronto, está resolvido, era o que ele
achava. Nunca na cabeça dele houve a preocupação de propor a cloroquina
como um caminho de saúde. A preocupação dele era sempre “vamos dar esse
remédio porque com essa caixinha de cloroquina na mão os trabalhadores
voltarão à ativa, voltarão a produzir”.
Até na produção da cloroquina o presidente é assombrado pela ideologia.
A Fiocruz produz cloroquina há muitos anos e distribui para a região Norte.
Mas o presidente determinou que o laboratório do Exército produzisse o
medicamento. Fez isso porque acha que na Fiocruz só tem comunista.
Consequentemente, se a Fiocruz ficasse responsável pela produção, seria
enaltecer o comunismo. E, por fim, esse é um remédio muito simples de
antfer
(Antfer)
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