levava em conta um dos efeitos colaterais mais comuns da cloroquina, a
arritmia cardíaca, perigoso principalmente para pessoas mais idosas.
Outra coisa espantosa é sua visão sobre a morte. Na cabeça do Bolsonaro
só morreriam pessoas com mais de oitenta anos, gente que já é doente, e tudo
bem. Pessoas sadias não morrem e estávamos, segundo ele, parando tudo por
causa de pessoas que já iriam morrer de qualquer maneira.
Algumas vezes tentei argumentar que não era bem assim, que se as pessoas
entrassem todas ao mesmo tempo num hospital faltariam leitos e
respiradores, e então “pessoas sadias” morreriam também. Para tentar
sensibilizá-lo, eu o coloquei no exemplo. “O senhor, que tomou uma facada
na barriga, chegou ao hospital e precisou de um leito de CTI. Se eles
estivessem lotados com toda essa gente com coronavírus, o senhor não teria
sido atendido, não haveria vaga no CTI. Então, um cara que tomar uma facada
na barriga igual o senhor, não vai ter atendimento, ele vai morrer da facada na
barriga.”
Tentei explicar num linguajar bem raso, porque se você falar em um
linguajar normal ele não demonstra interesse, não dá atenção. Não era uma
atitude de quem não entendia de um assunto, era simplesmente a atitude de
quem não queria ouvir. E aquela minha postura, na cabeça dele, fazia parte do
plano de desastre econômico dos governadores para prejudicá-lo. Ele
acreditava na teoria de que a China tinha inventado a pandemia, de que o
embaixador chinês estava aqui para derrubá-lo e que esse mesmo embaixador
havia sido o promotor dos protestos de rua em 2019 no Chile contra o
presidente Sebastián Piñera, e tinha trabalhado para que o Mauricio Macri
perdesse a eleição na Argentina. O embaixador chinês era um agente para
desestabilizar a direita na América do Sul e promover a volta da esquerda, e
ninguém tirava isso da cabeça dele. O coronavírus era parte do plano.
antfer
(Antfer)
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