Eu falava da nossa atuação, abria os números de casos, e a imprensa fazia
as perguntas que queria. A repórter da Folha Natalia Cancian, a Delis Ortiz
da TV Globo, as repórteres da Record, todas elas vinham falar comigo antes
das coletivas. Eu dava as deixas do que seria importante na abordagem. Elas
perguntavam se havia novidades e eu dizia para prestarem atenção em tal
coisa, em tal detalhe, em tal dado. E aquilo que eu ia mostrando e dando
ênfase, que era a mensagem que eu queria passar, era depois retratado em
todos os jornais, em todas as rádios, em todas as redações.
Graças a essa enxurrada da cobertura da imprensa, foi veiculado muito
pouco material de propaganda institucional sobre a doença. Os jornalistas
entenderam a gravidade da situação e me ajudaram dando destaque aos temas
que o Ministério da Saúde julgava essenciais.
Um deles, claro, era o isolamento social, um ponto de conflito com o
presidente Bolsonaro. Felizmente, a Saúde vinha ganhando essa guerra de
comunicação. Mesmo com o presidente passando a mensagem de que a
covid-19 era um problema menor e incentivando as pessoas a saírem de casa,
a população estava aderindo ao isolamento. Mas havia outro ponto, também
discutido no Ministério da Saúde. A quantidade maciça de informações sobre
a pandemia era necessária, mas também podia causar efeitos psicológicos
negativos nas pessoas. O Wanderson usava a expressão infodemia, que é a
epidemia por excesso de informação. Veicular muitas notícias sobre um só
assunto pode ser algo tóxico.
As pessoas, em sua maioria, estavam presas dentro de casa e todos os
meios de comunicação, da TV ao podcast e o YouTube, de manhã, de tarde e
de noite, falavam sobre a epidemia. As cenas do colapso sanitário na Itália, na
Inglaterra, na França e no resto do mundo eram impactantes, e do sofá elas
assistiam à doença avançando, chegando cada vez mais perto. Aquilo
começou a causar um estresse tremendo. A cobertura do Jornal Nacional, da
antfer
(Antfer)
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