que assinar concordando com a medida. Mas não achei que fosse correto
aumentar preço de remédio em meio a uma brutal crise sanitária. Falei:
“Poxa, no meio de uma pandemia, com pessoas sem dinheiro, uma multidão
de desempregados, e o governo vai anunciar aumento de remédio? Olha o
desgaste para o presidente. Sendo que os lucros das empresas farmacêuticas
são muito expressivos em todos os anos e está todo mundo fazendo
sacrifícios. Não é hora de dar esse reajuste”.
É bom lembrar que, no meio da crise, Paulo Guedes se isolou no Rio de
Janeiro, numa quarentena voluntária por medo de ser contaminado pelo novo
coronavírus. Mas retornou a Brasília para essa reunião. Eu já tinha avisado o
Braga Netto, da Casa Civil, que pela regra estava acabando o prazo para
assinar o reajuste, mas que o presidente poderia, numa canetada, estender a
negociação por mais sessenta dias. Era só dizer que não concordava com os
números e jogar o problema para a frente.
O Paulo Guedes, que até então parecia alheio a tudo, saiu do transe em que
parecia estar e falou: “Negativo, eu não admito tabelamento”.
Ele sequer sabia que o preço dos medicamentos era tabelado, e muito
menos que a questão poderia ser postergada. A ideia não era cancelar os
reajustes, mas sim adiá-los para um momento mais favorável. Tentei
argumentar com o Guedes que um adiamento poderia ser importante para a
própria indústria farmacêutica, pois a flutuação do dólar, que é um item
dramático na tabela dos remédios, estava subindo muito e o reajuste de 3,4
por cento seria insuficiente para os laboratórios. Eles iriam pedir um reajuste
maior na sequência, não havia dúvidas. Mas Guedes interrompeu a minha
fala e disse, em tom muito alto, que eu não poderia fazer aquilo porque o
assunto era da competência dele, não do ministro da Saúde. Disse para eu não
me meter na economia. Ele perdeu a classe, foi agressivo. E achei que era o
caso de rebater no mesmo tom.
antfer
(Antfer)
#1