Ele não tinha citado meu nome, mas é claro que era para mim. A imprensa
inteira entendeu aquela fala como um recado para o ministro da Saúde.
Passei a mão no telefone, muito irritado, e liguei para o general Luiz
Eduardo Ramos, ministro-chefe da Secretaria de Governo, que estava ao lado
do presidente durante as declarações. Disse a ele que havia chegado no meu
limite, que não dava mais. Eu estava medindo palavras até aquele momento,
tinha sido parceiro do presidente, conduzido uma política séria, estava
protegendo o governo, estava o tempo todo imaginando o melhor jeito de
dizer as coisas, escolhendo as palavras, conversando com os outros ministros,
com o Supremo Tribunal Federal, fazendo todo um trabalho de composição, e
o presidente da República vai e fala em público que a minha hora iria chegar?
O Ramos tentou contemporizar ao telefone. Disse que estava lá no dia da
frase, que também havia achado errado o que o presidente falou e me pediu
calma. Respondi que para mim não tinha mais calma e que faria uma coletiva
no dia seguinte para chutar o balde. Eu estava de cabeça quente.
A segunda-feira chegou e ficou aquele clima ruim. Crescia a apreensão
sobre a minha demissão. Bolsonaro convocou uma reunião no Palácio do
Planalto na parte da tarde. Todos os ministros foram convocados, inclusive
eu.
Na hora marcada, o presidente pediu para todos os assessores e presidentes
de estatais saírem. Ficaram só os ministros de Estado. A reunião foi
conduzida de forma que todos os ministros trataram sobre seus temas e fiquei
para falar por último.
O penúltimo a falar foi o general Fernando Azevedo e Silva, ministro da
Defesa. Ele dizia que uma das atribuições de um comandante era dizer para
onde vamos, qual é o caminho a seguir. Peguei esse gancho e comecei a
minha fala dizendo ao presidente: “Eu não sabia por onde começar, mas vou
começar pela fala do general Fernando. Qual é o rumo que o senhor quer para
antfer
(Antfer)
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