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Domingo era o único dia da semana em que eu não ia para o ministério,
tirava para ficar com a minha família. Tentava relaxar um pouco, porque as
semanas eram muito intensas. Naquele dia 5 de abril, eu estava em casa com
a minha mulher, Terezinha, vendo TV, quando foi ao ar uma reportagem
sobre um vídeo em que o Bolsonaro falava, em tom de ameaça, de um
ministro que o estaria desagradando.
A fala aconteceu em frente ao Palácio da Alvorada. Bolsonaro havia se
encontrado com apoiadores que se aglomeravam em frente à residência
oficial do presidente, quando fez um desabafo, certamente sabendo que seria
gravado e divulgado. Disse que poderia usar a caneta para trocar um ministro
e que alguns de seus subordinados “viraram estrelas, falam pelos cotovelos,
têm provocações”.
Era uma fala dura. “A hora dele não chegou ainda, não. Vai chegar a hora
dele. Que a minha caneta funciona. Não tenho medo de usar a caneta, nem
pavor, e ela vai ser usada para o bem do Brasil.”
Assim que a reportagem terminou, a Terezinha se virou para mim e disse:
“Olha que absurdo isso que ele falou”.
“Ele está falando isso aí para mim”, respondi.
Aquilo mexeu com os meus brios.