política. Deixa a saúde fora do pronunciamento. Agora a saúde está ruim. A
hora em que a saúde estiver boa, o senhor faz política aí”.
O presidente foi para a sala ao lado gravar o pronunciamento. Ele ficou
sentado na cadeira em que seria filmado, e em seu entorno estavam os
cinegrafistas, uma pessoa penteando seu cabelo, os filhos Flávio e Carlos
Bolsonaro e seus assessores, e o Arthur Weintraub. Cumprimentei todo
mundo e fui para a coletiva de imprensa.
Nessa gravação ele fez tudo o que, naquela manhã, me disse que não faria.
Propagandeou a cloroquina, disse que o médico Roberto Kalil, adoecido pela
covid-19, tinha tomado o remédio e melhorado (disse o mesmo do dr. David
Uip em outras ocasiões). Fiquei perplexo, porque horas antes ele tinha
concordado que não era bom insistir no discurso da cloroquina como remédio
salvador. Os Estados Unidos já tinham tirado a cloroquina do site do órgão de
saúde, porque começaram a tomar processos por causa das dúvidas sobre a
eficácia e os efeitos colaterais do medicamento. O Bolsonaro usou um
pronunciamento que era para falar do auxílio emergencial para falar da
cloroquina.
Mesmo com esse sinal desanimador, insisti e, no dia seguinte, quinta-feira,
mantive o compromisso de ir duas vezes conversar com ele, na parte da
manhã e da tarde, sobre o avanço da pandemia no Brasil e as medidas a
serem tomadas. Mas, nesse mesmo dia, uma reportagem de TV deixaria muito
claro que o gabinete do presidente era um terreno minado para mim.
antfer
(Antfer)
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