“Como você não aceitou?”
Voltei para Campo Grande extremamente preocupado, agoniado mesmo.
“Ele vai divulgar meu nome, vão me apontar como um ex-gestor corrupto,
ele não vai sustentar a indicação e isso para mim vai ser muito ruim”, eu
pensava. Passei o final de semana escrevendo uma carta para o presidente em
que dizia quem eu era, o que tinha feito, enfim, explicando toda a história.
Anexei o número do processo, coloquei os contatos do meu advogado.
Liguei para o Onyx e disse que precisava ter uma conversa pessoal com o
Bolsonaro. Ele a marcou e fui para o Rio de Janeiro me encontrar com o
presidente na casa dele. Expliquei tudo, entreguei o material, pedi que seus
assessores verificassem tudo, que ficasse à vontade.
“Se o senhor quiser, eu ajudo a achar outro nome.”
Não sei se ele leu, mas eu entreguei. Fui embora e um tempo depois ele foi
até a porta de casa falar com os repórteres. Declarou que na Saúde estava
quase tudo certo e anunciou meu nome. Ele fez um balão de ensaio com meu
nome, jogou a informação para ver como a imprensa ia reagir.
Foi uma semana infernal. Um monte de matérias falando do inquérito que
investigava suposta fraude em licitação e caixa dois. Passei a semana
pensando em como deveria agir, quando o Caiado disse que eu tinha que dar
uma entrevista. Chamou um jornalista do Globo de Brasília, que publicou
uma entrevista de página inteira comigo perguntando sobre o processo e tudo
mais. Na sequência, o Bolsonaro confirmou o meu nome, e quando a
imprensa perguntou por que ele estava nomeando um ministro com um
inquérito em andamento, ele respondeu que eu não era nem réu.
“Ele nem é réu ainda. O que está acertado entre nós? Qualquer denúncia ou
acusação que seja robusta, [o ministro] não fará parte do governo.”
Foi assim que me tornei ministro.
antfer
(Antfer)
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