National Geographic - Portugal - Edição 235 (2020-10)

(Antfer) #1
REIMAGINANDO OS DINOSSAUROS 41

Um embrião de galinha
colorido no laborató-
rio de Bhullar aguarda
a oportunidade de ser
examinado ao microscó-
pio. Ao rastrear a maneira
como os genes orques-
tram os padrões dos
corpos dos animais em
crescimento, Bhullar con-
segue aperceber-se das
componentes essenciais
do desenvolvimento,
aperfeiçoando o conhe-
cimento que possuímos
sobre os dinossauros
e os seus descendentes
modernos.


coberta das cores da pele e penas de dinossauros
extintos, com base no formato, dimensão e dispo-
sição dos seus melanossomas.
Estas reconstituições requerem algumas cau-
telas: os animais vivos utilizam outros pigmentos
além da melanina e é provável que o mesmo acon-
tecesse com alguns dinossauros extintos. Mesmo
assim, as descobertas mais recentes têm sido es-
pantosas. O dinossauro emplumado Anchiornis,
que outrora habitou no território da actual China,
possuía uma crista avermelhada; o primitivo ce-
ratopsiano Psittacosaurus possuía uma pele casta-
nho-avermelhada que contribuía para uma espécie
de camuflagem incipiente. Em 2018, uma equipa
internacional revelou que as penas do Caihong, um
dinossauro que habitou a mesma região do Yi qi,
refulgiram outrora com todas as cores do arco-íris.
Ainda há mais moléculas da vida capazes de so-
breviver à longa passagem do tempo. Na década
de 2000, Mary Schweitzer, paleontóloga da Uni-
versidade Estadual da Carolina do Norte, causou
sensação ao descobrir que alguns fósseis de dinos-
sauros, incluindo espécimes de T. rex, continham
células e vasos sanguíneos preservados e talvez até
vestígios de proteínas. Desde então, Mary e um
grupo crescente de cientistas têm-se interrogado
sobre como foi possível essas substâncias sobrevi-
verem e o que podemos aprender com elas.
No seu laboratório, Jasmina Wiemann, dou-
toranda em Yale, mostra-me como tritura um
pedacinho de osso de Allosaurus para análise.
Transfere o pó para um tubo e convida-me a adi-
cionar uma solução ácida, que borbulha e muda
de cor. “Faz-me sempre lembrar Coca-Cola”, diz.
Ao microscópio, a lama remanescente inclui pe-
daços esponjosos cor de mogno, pontilhados por
rabiscos negros. Não acredito no que vejo. Aque-
le muco castanho foi outrora um tecido rico em
proteínas. E os rabiscos? São os contornos de cé-
lulas ósseas que viveram há mais de 145 milhões
de anos num predador de dentes afiados, com dez
metros de comprimento, do Jurássico.
Passados milhões de anos, o calor e a pressão
transformam, frequentemente, estes tipos de ves-
tígios microscópicos através de reacções quími-
cas. Apesar do seu estado alterado, os materiais
contêm pistas preciosas sobre o comportamento
dos dinossauros. Num estudo realizado em 2018,
Jasmina demonstrou que, quando certas cascas
de ovo são bombardeadas com radiação laser, a
luz reflectida revela protoporfirina e biliverdina
degradadas, compostos que conferem a cor e as
pintas aos ovos das aves modernas.
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