VOO LIVRE REVISTA LITERÁRIA - ANO 1 - Nº 3

(MARINA MARINO) #1
Capítulo 3:

A novaiorquina Néris

AvidaagitadadeNovaYorknunca


foi um problema para a jovem Néris.
NascidanobairrodoBronx,amoçasabe
bemoque évivernessametrópoleonde
ainda se destacam as diferenças,
principalmentecomrelaçãoacordapele.
Desdemenina,conviviacomgrupos
de hip-hop na calçada, enquanto
caminhava emdireçãoà escola. Obairro
já não era mais violento comonos anos
70 , mas ela ainda mantinha aquela
impressão de que precisava tomar
cuidadocomosbecosevielas.
Sempre se incomodou com a
violênciaeopreconceitocontraamulher
negra, que ouvia principalmente nas
histórias contadas por suamãe e avó,e
cresceu desejando fazer alguma coisa a
respeito. Ela mesma havia vivenciado
algumas situações de racismo com suas
colegas e vizinhas, mas uma dessas, em
especial,quandoterminavaaHighSchool,
marcou-aparasempre.
Estavamemaulanolaboratóriode
física, no corredor superior da escola,
quando ouviramgritos. Ao descer, Néris
viuquetodososalunosestavamforadas
salasdeaula,observandoumalutaentre
duasgarotas:umabrancaeaoutranegra.
A algoz, dentro de sua bolha branca,
acreditando na soberania de sua raça e
sua vítima, aquela que tinha que ser
humilhada por ter cabelo ruim, por sua
peleescuraoupelasraízesafricanas.


Séculos de humilhação e
violência estavam ali diante de Néris,
um passado mal consumado, que
insiste ainda em estar presente nas
relaçõeshumanas.
Ali,agarotaNéris,entãocom 16
anos, descendente também de
escravos, soube que faria algo a
respeito, que não ficariamuda diante
de uma liberdade desde 1863 não
concretizada.
Anos se passaram até ter sua
chancedeseexpressar.Acabaradese
formaremjornalismoefoicontratada
pelo The New York Times como
repórter.
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