Clipping Banco Central (2020-10-16)

(Antfer) #1

Salvemos o Evangelho do direito


Banco Central do Brasil

Folha de S. Paulo/Nacional - Poder
sexta-feira, 16 de outubro de 2020
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Autor: Reinaldo Azevedo


A leitura torta de um princípio garantidor resultou na
libertação de um facínora


Aí o maga no -com a licença de Elio Gaspari para uso
em jornalismo- sobe uma colina, reúne meia dúzia de
desocupados que deveriam estar trabalhando e dispara:


'Bem-aventurados os pobres de espírito porque deles é
o Rei no dos Céus; bem-aventurados os que choram
porque eles serão consolados; bem-aventurados os
mansos porque eles herdarão a terra; bem-aventurados
os que têm fome e sede de justiça porque eles serão
fartos; bem-aventurados os misericordiosos porque eles
alcançarão misericórdia; bem-aventurados os limpos de
coração porque eles verão a Deus'.


E prossegue: 'Bem-aventurados os pacificadores porque
eles serão chamados filhos de Deus; bem-aventurados
os que sofrem perseguição por causa da justiça porque
deles é o Reino dos Céus; bem-aventurados sois vós
quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo,
disserem todo o mal contra vós por minha causa.


ExuItai e alegrai-vos porque é grande o vosso galardão
nos céus; porque assim perseguiram os profetas que
foram antes de vós".

Dizer o quê? De saída, note-se que o espertalhão prega
numa colina porque está querendo rivalizar com Moisés,
embora afirme mais adiante não ter

vindo para 'destruir as leis e os profetas". Conhecemos
bem esse tipo que, como na música 'Meu Disfarce'
poderia cantar: 'Digo coisas que não faço, faço coisas
que não digo"

Salta aos olhos a exaltação da acomodação
autocomplacente, como se os céus fossem um Estado-
babá que dispensa a noção de mérito, premiando a
passividade. Deve, então, o homem se alegrar com a
perseguição? A que se presta o orgulho das vítimas, a
'bem-aventurança' dos perseguidos, senão à violência
calculada dos oprimidos? O balir presente do cordeiro é
só o uivo futuro do lobo.

Não nos enganemos com a

retórica em favor da sindicalização dos perseguidos,
que só encontrariam no outro mundo a sua
recompensa. Se verdade fosse, teríamos a curiosa
contradição de os abençoados serem governados pelos
amaldiçoados, de modo que os fortes estariam sob o
comando dos fracos. Assim, o discurso é falso em sua
própria natureza, e a mansidão a que apela é mera
senha para a luta sangrenta.

Pior: a tentação messiânica é evidente quando o
pregador afirma que os que se submetem a injustiças o
fazem 'por minha (sua) causa" Assim, a exemplo de
todo demiurgo irresponsável, privatiza, sem pudor, o
destino de terceiros.

Muita gente percebeu que reproduzo um trecho do
'Sermão da Montanha' segundo Mateus, e submeto a
fala de Cristo a uma interpretação enfeza da. Não há
bem ou beatitude que resista a uma leitura
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