Clipping Banco Central (2020-10-22)

(Antfer) #1

As mulheres são todas bruxas


Banco Central do Brasil

Folha de S. Paulo/Nacional - Ilustrada
quinta-feira, 22 de outubro de 2020
Cenário Político-Econômico - Colunistas

Clique aqui para abrir a imagem

Autor: Contardo Calligaris


O feminicídio não sumirá tão cedo porque é uma
vingança da estupidez masculina


Leio a excelente reportagem de Camila Brandalise no
Universa, no dia 15 de outubro deste ano
(encurtador.com.br/ekpSX).


O casal estava separado havia uma semana, mas "na
noite de 25 de maio de 2016, [ele] foi atrás dela dentro
da Igreja Evangélica Missão e Avivamento, na cidade de
Nova Era (MG). [Acrescentou: aparentemente, ninguém,
nessa história, está em nova era alguma], Puxou-a pelo
braço e, no meio da conversa, viu uma mensagem no
celular da ex com a frase 'te aguardo no mesmo lugar'.
Segundo ele, nesse momento, 'bateu um trem doido' e,
com uma faca de serra, ele deu três golpes na mulher,
na cabeça e nas costas"


Ele comentou: "Sou trabalhador e não posso aceitar de
forma alguma uma situação humilhante dessas".


Em2017, ele foi absolvido pelos jurados, seus pares. por


unanimidade. A "legítima defesa da honra" foi e
continua sendo o argumento que embasa esse tipo de
decisão.

No STF o ministro Alexandre de Moraes lembrou que
esse argumento fazia do país campeão do feminicídio.
"O Brasil ocupa o quinto lugar no ranking dos países
que mais matam mulheres no mundo." Mas tanto
Alexandre de Moraes quanto Luis Roberto Barroso
foram votos vencidos.

O agressor continua solto, esperando uma eventual
votação no plenário do Supremo.

De qualquer forma, parece que não estamos muito
longe daquele ano de 1976, quando Doca Street
também foi solto após assassinar Ângela Diniz.

Quem duvidasse deveria meditar sobre os jurados de
2017, que libertaram nosso "trabalhador" que não tolera
"humilhação" (qual?).

O casal dessa história estava separado havia apenas
uma semana. Mas parece que os homens, muitos
homens, têm uma certa dificuldade em entender
apalavra "separado".

Depois das separações, as mulheres podem ser
vingativas, mas raramente o são fisicamente. Em geral,
preferem agredir ou mesmo assassinar os homens com
os quais estão vivendo ou de quem elas não
conseguem se separar.

Os homens, ao contrário, são estranhamente vingativos
após as separações. A cada semana, mundo afora (não
é uma especialidade nacional), há homens que agridem
e matam suas ex- companheiras. E isso pode acontecer
dias, mas também (fato surpreendente) anos depois da
separação.

Talvez a vingança seja um prato gostoso de se comer
frio. Mas o ciúmes? Será que ele permanece vivo
mesmo em homens que, depois da separação, criaram
Free download pdf