MERVAL PEREIRA - De volta para o passado
Banco Central do Brasil
O Globo/Nacional - Opinião
quinta-feira, 22 de outubro de 2020
Cenário Político-Econômico - Colunistas
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Autor: MERVAL PEREIRA
O presidente Bolsonaro faz o país viver um esdrúxulo
retrocesso ao assumir a disputa comercial dos Estados
Unidos com a China. Caminhamos para uma relação
conturbada com a empresa chinesa Huawei devido à
tecnologia 5G, pois a China está mais avançada que os
Estados Unidos nesse quesito, mas nossa política
externa acha justificável o veto americano à empresa
chinesa, devido a uma geopolítica ultrapassada que nos
coloca como subalternos dos Estados Unidos, numa
guerra comercial entre as duas potências que poderia
nos trazer vantagens.
Agora, abre-se a disputa sobre a "vacina chinesa",
como Bolsonaro chama a vacina que será produzida no
Instituto Butantan, assim como Trump gosta de chamar
a Covid-19 de "vírus chinês". A pandemia foi politizada
entre nós desde o início, quando o Palácio do Planalto
colocou-se contra os governadores na definição das
medidas preventivas ao novo coronavírus, como
distanciamento social, uso de máscaras e lockdown.
Houve a contraposição de uma política personalista,
que queria encontrar a todo custo um remédio milagroso
para evito que a economia parasse, às recomendações
médicas que eram seguidas pelos dois primeiros
ministros da Saúde, Luiz Mandetta e Nelson Teich,
demitidos por causa dessa divergência.
O governador de São Paulo, João Doria, viu nessa
situação a possibilidade de destacar-se como defensor
da ciência e da medicina e assumiu a tarefa com afinco,
produzindo coletivas diárias dando conta do que o
estado mais rico do país fazia contra a Covid-19. Doria
montou uma equipe técnica do mais alto nível.
Essa polarização levou à crise atual, sucedânea de
várias outras, que coloca agora a vacina produzida pela
empresa chinesa Sinovac em parceria com o Butantan
no alvo do presidente Bolsonaro. Doria quer ser o
pioneiro na imunização contra a Covid-19, o que lhe
dará uma visibilidade nacional positiva. Isso, Bolsonaro
não quer que aconteça, e a "vacina chinesa do Doria"
foi barrada por mais uma intempestiva reação do
presidente diante de reclamações nas redes sociais de
seus seguidores mais radicalizados.
Do comprometimento com a compra de milhões de
doses da vacina até o "esclarecimento" de que houve
um mal-entendido, não demoraram 24 horas. Bolsonaro
sentiu-se traído pelo ministro Eduardo Pazuello, dizem
alguns. Outra versão sustenta que ele sabia, mas,
diante da reação de sua claque, recuou, deixando seu
ministro da Saúde abandonado.
Entre idas e vindas, mais enfático nas redes sociais
,mais cuidadoso nas entrevistas, Bolsonaro diz que o
governo brasileiro somente comprará vacinas que sejam
avalizadas pela Anvisa. Como se fosse possível alguma
coisa diferente disso, embora o Ministério da Saúde já
tenha comprado milhões de doses da vacina de Oxford,
que no Brasil será produzida pela Fiocruz, antes de ela
estar autorizada pela Anvisa.
Nenhuma vacina no mundo, hoje, pode ser liberada
pelos órgãos científicos de controle, pois todas ainda