Sem diálogo, não há sociedade humana
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Correio Braziliense/Nacional - Opinião
quinta-feira, 22 de outubro de 2020
Cenário Político-Econômico - Colunistas
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Autor: DIOCLÉCIO CAMPOS JÚNIORMédico, professor
emérito da UnB, ex-presidente da Sociedade Brasileira
de P
Guerras e ditaduras as mais violentas sucedem-se ao
longo da história. O objetivo é sempre o mesmo:
preservação do poder impositivo e conquista de maiores
riquezas materiais para os grupos dominantes. É, sem
dúvida, a mais grave modalidade de poluição do planeta
porque não se restringe à contaminação tóxica da
atmosfera. Vai muito além disso. Implanta o modelo do
radicalismo destrutivo, que aterroriza a humanidade
sepultando os valores morais e éticos subjacentes a
uma civilização verdadeira.
Assim, a espécie Homo sapiens vai-se tornando a mais
selvagem e animalesca de todos os tempos. Priorizar a
violência é a meta de um número crescente de
lideranças que comandam o espetáculo. É a mais grave
pandemia que contamina a maioria das populações,
dizimando-as no elevado grau de disfarçados
genocídios.
O sonho do altruísmo, virtude pregada com fervor por
célebres líderes humanistas, desaparece das relações
interpessoais. Já não se ama a Deus acima de tudo
nem se respeita o próximo como a si mesmo. Não se
admite qualquer divergência. As falas atingem teores
agressivos. Os gestos tendem a ser ameaçadores. Os
palavrões passam a ser o idioma universal. O próximo é
tratado como ente medíocre. A alma é enfraquecida
pela arma; a paz, pela guerra. Os insultos são
crescentes, espinhosos e maledicentes.
A confiança desaparece a olhos vistos. A esperança é
ridicularizada. A cultura bélica e ditatorial domina o
mundo por meio da sua virulência indisfarçável que
mantém um deletério cenário no qual somente
prosperam as trevas do inferno dantesco.
A comunicação serena e respeitosa entre as pessoas é
desconstruída por meio de poderosos recursos que
contagiam a mente do ser humano. São exemplos os
avanços da ditadura da imagem, consolidada por meio
das novas tecnologias da comunicação, que passam a
ser uma modalidade de drogadição a serviço do poder
reinante. O ato de pensar já não é mais exercido com o
grau de equilíbrio e serenidade que requer. Imagens
contundentes, violentas e ameaçadoras tomam conta
das telas de televisão, computador, celular e cinema.
Geram comportamentos alinhados ao padrão de
agressividade que se dissemina mundo afora.
Mensagens sintonizadas com a inverdade são
divulgadas e replicadas no ritmo da inteligência artificial.
As chamadas redes sociais transformam-se em
verdadeiras senzalas em que se hospedam multidões
de escravos da atualidade.
Esse clima tão desfavorável à convivência fraterna põe
em risco a sobrevivência da humanidade. É mais
impactante do que qualquer pandemia. Contamina, há
séculos, a maioria das populações. Seus efeitos
danosos condenam os seres humanos a uma existência
insensata, oriunda da cultura bélica e ditatorial.
É evidente que uma vida saudável, desfeita por essas
estratégias abusivas, deve ser reconstruída de forma