Por ala ideológica, Bolsonaro desautoriza ministro e rejeita a 'vacina da
China
Banco Central do Brasil
O Estado de S. Paulo/Nacional - Metrópole
quinta-feira, 22 de outubro de 2020
Banco Central - Perfil 2 - TCU
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Autor: Camila Turtelli Vera Rosa Emilly Behnke / brasília
O presidente Jair Bolsonaro desautorizou ontem o
ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, sobre a compra
de 46 milhões de doses da vacina Coronavac,
produzida em parceria pelo laboratório chinês Sinovac e
o Instituto Butantã, de São Paulo. A aquisição havia sido
anunciada pelo próprio Ministério da Saúde no dia
anterior. Bolsonaro ficou inconformado com o palanque
dado ao governador de São Paulo, João Doria (PSDB),
no acordo. A nacionalidade e o domicílio eleitoral da
vacina acabaram ressuscitando a ala ideológica do
governo, que atacou a iniciativa tomada com aval dos
generais da Esplanada.
Sob pressão, Bolsonaro recuou, barrando o acerto que
dava protagonismo a seu adversário, Doria. Foram
várias as mensagens recebidas por ele. "Presidente, a
China é uma ditadura, não compre essa vacina, por
favor. Só tenho 17 anos e quero ter um futuro, mas sem
interferência da Ditadura chinesa", comentou um
usuário nas redes sociais. Bolsonaro reagiu em letras
maiúsculas: "NÃO SERÁ COMPRADA".
Depois, em publicação no Facebook oficial, com o título
"A vacina chinesa de João Doria", afirmou que "qualquer
vacina, antes de ser oferecida, deverá ser comprovada
cientificamente pelo Ministério da Saúde e certificada
pela Anvisa". Bolsonaro disse, ainda, que "o povo
brasileiro não será cobaia de ninguém". Mais tarde, deu
nova estocada em Doria. "O presidente sou eu",
afirmou.
O tom sobre a eficácia científica contrasta com o
discurso adotado sobre o uso da cloroquina para
combater a covid19. Naquele caso, a falta de
comprovação científica sempre foi minimizada. A
Coronavac está na fase 3 dos testes clínicos, os mais
avançados em humanos. Segundo dados apresentados
esta semana, teve os melhores resultados de segurança
entre imunizantes em teste. Os dados de eficácia
devem sair até dezembro.
"Não se justifica um bilionário aporte financeiro num
medicamento que sequer ultrapassou fase de
testagem", insistiu Bolsonaro nas redes. Segundo o
ministério, o valor desembolsado seria de R$ 1,9 bilhão.
O argumento do presidente, porém, contradiz ato
anterior da própria gestão. A Saúde já firmou outro
acordo bilionário para adquirir uma vacina em teste. Em
agosto, o presidente assinou medida provisória de R$
1,9 bilhão para comprar 100 milhões de doses da vacina
desenvolvida pela Universidade de Oxford e pela
farmacêutica AstraZeneca.
O compromisso prevê transferência de tecnologia de
produção para a Fiocruz. O produto está em fase final
de estudos, como a Coronavac. Vários países estão
firmando acordos prévios de compra de vacinas em
teste para garantir o abastecimento após o registro.
Em transmissão ao vivo na internet, o blogueiro