Exame - Portugal - Edição 440 (2020-12)

(Antfer) #1
DEZEMBRO 2020. EXAME. 17

ção e o comércio ainda representam 20% das vagas
comunicadas, o que ilustra bem o peso que têm na
economia portuguesa. Já as atividades imobiliárias,
administrativas e dos serviços de apoio representam
quase 30% das ofertas de emprego disponíveis, apesar
do ligeiro recuo de 1,5% face a 2019.
Mas nem tudo foi destruição. Os dados do INE
mostram que as atividades em que estão incluídas as
TI criaram mais de 24 mil postos de trabalho em plena
crise. “Há áreas que, mesmo no decorrer da pandemia,
tiveram maior ênfase, como as tecnologias de informa-
ção que não pararam e tiveram, talvez, um comporta-
mento mais ativo para darem resposta às necessida-
des de trabalho remoto”, refere Pedro Borges Caroço,
Senior Executive Manager da Michael Page, à EXAME.
Também Rui Teixeira observa que, “à medida que a
atividade de muitas empresas se desmaterializa e a di-
gitalização aumenta, assistimos também a uma maior
procura de perfis de serviço a cliente, nomeadamente
nas áreas de customer support, que suportam ativida-
des de e-commerce, ou de serviços como telecomu-
nicações, utilities e saúde”. Na tecnologia, a procura
por software developers, information security analys-
ts, network administrators, arquitetos e engenheiros
de sistemas e por competências em Java, outsystem,
QA, SAP, Cyber ou Python tem estado em alta, revela
o responsável do ManpowerGroup.
No entanto, durante esta crise, a procura das em-
presas não se ficou exclusivamente pela tecnologia.
Rui Teixeira realça que as áreas da saúde, logística
e transporte e retalho alimentar, por exemplo, au-
mentaram as suas contratações, uma vez que este
conjunto de trabalhadores essenciais “foi e continua
a ser fundamental na resposta à crise”. O COO da
ManpowerGroup sublinha que, “em todo o mundo,
estes trabalhadores-chave, de funções até agora sub-
valorizadas, tornaram-se heróis indispensáveis, pres-
tando serviço em hospitais, supermercados, fábricas,
centros logísticos e na distribuição de bens”.
Já junto do IEFP, “a indústria do couro e dos pro-
dutos de couro foi a única a registar um ligeiro au-
mento das ofertas de emprego”. O aumento nos pri-
meiros nove meses do ano foi de 2,8%. Ao nível das
profissões, “as ofertas para trabalhadores qualificados
da metalurgia, metalomecânica e similares foram as
únicas a apresentar uma variação positiva no período.
Consequentemente, é também nesta profissão que se
regista o maior acréscimo de colocações, em termos
quer absolutos (+532) quer relativos (+43,1%)”, indi-
ca o instituto liderado por António Valadas da Silva.
Nos últimos meses, também “o trabalho através
de plataformas informáticas, que já vinha a ser uma
tendência crescente nos últimos anos, ganhou peso
neste período de pandemia”, algo que deverá estar
para ficar e que o Governo promete regular.

AS ÁREAS COM
MAIS PROCURA

Os especialistas em Recursos
Humanos ouvidos pela EXAME
apontam várias áreas que
poderão vir a ter mais procura
por parte das empresas no
relançamento da economia

> TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO

A tendência já se verificava antes da pan-
demia, mas a necessidade de profissionais
de tecnologias de informação acelerou
durante esta crise, e essa tendência deverá
ser reforçada numa economia cada vez
mais digital. “Os perfis e as funções ligados
à transformação digital das empresas
serão os mais beneficiados, com particular
ênfase para os postos de tecnologia”, indi-
ca Rui Teixeira, COO do ManpowerGroup
Portugal.

> SAÚDE E BEMESTAR

O IEFP observa que “as áreas da saúde e
do bem-estar têm vindo a ser valorizadas
desde o início da pandemia e tendem a
continuar a sê-lo”. O instituto refere ainda
que “também as áreas ligadas ao apoio
domiciliário ou ao trabalho em lares, num
País em que o peso da população idosa
e dependente é significativo, têm vindo a
ser reconhecidas e valorizadas”.

> “COLARINHOS VERDES”

O investimento maciço que os governos
europeus contam fazer na transição
energética deverá criar oportunidades nas
áreas ligadas ao ambiente e à sustentabi-
lidade. Profissões que, em alguns casos,
têm elevada tecnicidade e poderão ajudar
a absorver trabalhadores de indústrias com
grande pegada carbónica.

> FUNÇÕES ESPECIALIZADAS

Rui Teixeira recomenda também a aposta
em algumas áreas técnicas em que os
estudos indicavam já uma falta de profis-
sionais qualificados antes da pandemia,
tendência que deverá continuar depois da
crise. O responsável aponta para a escas-
sez de talento em funções especializadas,
como é o caso dos eletricistas, condutores,
mecânicos e outros domínios técnicos,
nomeadamente o controlo de qualidade.

Forças transformadoras
Requalificar a força laboral
de áreas que estão em
regressão ou de setores
que não recuperem para níveis
pré-pandemia, bem como
a resolução do défice crónico
de competências digitais
dos trabalhadores estão
no horizonte como os grandes
desafios para o ciclo
de recuperação

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