DEZEMBRO 2020. EXAME. 19
Algumas destas tendências já se notaram nos últi-
mos meses, mas o reflexo no número de vagas de em-
prego ainda está por se verificar. Para já, os empregado-
res parecem estar, em grande parte, colocados ombro a
ombro atrás da linha de partida, à espera de notícias que
gerem confiança suficiente para uma retoma. Uns, na
expectativa de ainda recuperarem das perdas causadas
pelo impacto de quase um ano de pandemia; outros, os
que conseguiram manter-se a flutuar ou que navegaram
mesmo pelas oportunidades detetadas nestes meses,
esperam pela possibilidade de reforçar a produção, ou
a prestação de serviços, e de continuarem a conquistar
mercado, assim se recupere alguma estabilidade.
A chave em que todos apostam é o surgimento de
um avanço médico que ponha um ponto final à crise
de saúde pública global, traga a normalidade aos flu-
xos comerciais, leve de novo as empresas a investir e as
pessoas a gastar – impulsionando a criação de mais em-
Ferida aberta
Setores como
a hotelaria e a
restauração viram
desaparecer mais
de 45 mil postos de
trabalho desde o início
da pandemia, seguidos
de perto pela indústria
transformadora, em
que as perdas foram
de 42 mil empregos.
Herança pesada
para o próximo ciclo
económico
ALOJAMENTO,
RESTAURAÇÃO
E SIMILARES
ATIVIDADES
ADMINISTRATIVAS
TRANSPORTES
E ARMAZENAGEM
ATIVIDADES
ARTÍSTICAS,
DE ESPETÁCULOS,
DESPORTIVAS
SAÚDE
E APOIO
SOCIAL
INDÚSTRIAS
TRANSFORMADORAS
COMÉRCIO
E REPARAÇÃO
DE VEÍCULOS
ATIVIDADES
IMOBILIÁRIAS
SANEAMENTO
E GESTÃO
DE RESÍDUOS
-1,3 -6,2 -24,1 -31,1 -45,
-3,9 -11 -30,8 -
2015 2016 2017 2018 2019 2020
4 947,
FONTE:
INE
FONTE:
INE
O QUE SE PEDE
ÀS LIDERANÇAS
O pós-pandemia requer skills que aliem rapidez
de reação, experiência global e mobilização de equipas
remotas. Saber juntar dimensão humana e tecnológica
também é um trunfo
As caraterísticas hoje
exigidas aos líderes
empresariais não
deverão mudar muito,
assim que seja ultra-
passada a atual crise
de saúde pública, e
pedem uma conjuga-
ção entre a disponibi-
lidade para a diferença
e para a mudança, a
capacidade de ante-
cipar alterações e de
assumir o risco, a par
de qualidades menos
tangíveis, como o
otimismo, a calma e a
intuição.
“Somos nós que
ajudamos a definir
melhor o que as
empresas precisam
e a incorporar as soft
skills necessárias”,
mais do que serem
as empresas a pedir
perfis específicos
de líder, explica Luís
Melo. Entre os
atributos que podem
decidir a escolha, o
responsável pela área
de Executive Search
na Boyden Portugal (e
também seu Country
Manager) elenca a
aptidão de se sair da
zona de conforto e de
ser adaptar à veloci-
dade da transforma-
ção; a disponibilidade
para ser influenciado,
aprender e trabalhar
com pessoas de
diferentes culturas e
em várias geografias,
além da capacidade
de aprendizagem
rápida, de liderar
por influência e de
mobilizar equipas
sem necessidade
de presença física –
algo crucial perante
a emergência do
teletrabalho.
Juntar a dimensão hu-
mana e tecnológica,
conseguir antecipar
mudanças e ter a ca-
pacidade para assu-
mir riscos calculados,
numa altura em que
se pede intuição para
se decidir com poucos
dados e pouco tempo,
são outros fatores
distintivos, bem como
“a capacidade de
manter a calma, de
demonstrar otimismo
moderado e de
manifestar empatia
genuinamente”, afir-
ma o responsável.
Depois de um primei-
ro trimestre “bastante
forte” para a atividade
de executive search,
o deflagrar da pande-
mia a partir de março
trouxe o período
mais difícil de que
há memória, com as
empresas mais cen-
tradas na manuten-
ção de operacionais
do que em recrutar.
E só em maio/junho
a generalidade dos
clientes quebrou “um
dogma de décadas”,
nas palavras de Luís
Melo, passando a
admitir entrevistar (e
contratar) à distância,
por videochamada, os
candidatos que eles
sempre receberam
pessoalmente.
Nestes meses marca-
dos pela Covid-19, os
setores que mais têm
procurado a Boyden
para recrutamento de
quadros superiores
são a indústria – em
particular a automó-
vel, após aquisições
de private equity – e
o retalho alimentar,
dos poucos negócios
que aumentaram ati-
vidade neste período.
E, no pós-pandemia,
que setores se desta-
carão? “A tecnologia
que já é uma realida-
de. A transição digital
vai acelerar e trans-
formar os modelos
de negócio e a cultura
das empresas que
vão precisar das áreas
de consultoria”, an-
tevê Luís Melo. Com
várias multinacionais
a transferir a produção
para a Europa, para
não dependerem
exclusivamente de
mercados como a
China, a indústria será
outra área quente, tal
como o private equity
que continuará ativo,
“porque há vontade
de investir e capacida-
de de financiamento
para aquisições”,
argumenta.