Exame - Portugal - Edição 440 (2020-12)

(Antfer) #1

  1. EXAME. DEZEMBRO 2020


prego. “A partir de um determinado momento, a pro-
babilidade de uma vacina, só por si, já ajuda a que os
mercados tomem decisões a médio prazo”, considera
Pedro Borges Caroço, recordando a reação das bolsas
internacionais às notícias de eficácia chegadas do lado
dos medicamentos que estão a ser desenvolvidos pela
Pfizer ou pela Moderna. Mas o senior executive mana-
ger da Michael Page põe água na fervura. Apesar de es-
tas nesgas de luz ao fundo do túnel serem animadoras,
falta que elas se convertam em recrutamentos. “Ainda
estamos no pico da cautela”, avisa.
Num inquérito realizado recentemente por aquela
consultora, um quarto das empresas mostrou-se su-
ficientemente otimista para admitir contratar no pri-
meiro trimestre de 2021, contra os 30% que diziam não
saber se o fariam. O questionário foi feito antes das no-
tícias de eficácia das vacinas em desenvolvimento, o que
pode fazer pecar os números por defeito. “Os mercados
precisam de confiança. Havendo-a, vão voltar a recru-
tar”, afirma o responsável da Michael Page.


A GRANDE RECONVERSÃO


Esta crise teve um impacto forte em muitas das áreas de
atividade que representam mais emprego na economia
portuguesa, como a indústria transformadora, o comér-
cio e as atividades de alojamento e de restauração. Mes-
mo após terem perdido, no seu conjunto, quase 120 mil
postos de trabalho, nos primeiros nove meses do ano,
ainda representam quase 37% do emprego em Portugal,
segundo os dados do INE relativos ao final de setembro.
São responsáveis por 1,76 milhões de postos de trabalho,
alguns deles mantidos à custa de medidas de apoio ex-
traordinárias como o layoff simplificado e o novo meca-
nismo de apoio à retoma progressiva da atividade.
Muitos destes empregos correm o risco de estar no
fio da navalha devido ao sufoco económico que dura já
há nove meses e que não se sabe muito bem por quan-
to tempo mais irá permanecer. Ainda antes da entrada
em vigor dos novos estados de emergência, a Associa-
ção da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal
(AHRESP) revelava que 41% das empresas do setor pon-
deravam avançar para a insolvência. Já o comércio e
a indústria transformadora ressentiram-se fortemente
com o colapso súbito da procura externa e do consumo
doméstico provocados pela crise. Além disso, eram já
apontados antes da crise como os mais vulneráveis à
crescente robotização e automação.
Um estudo apresentado pela Confederação Empre-
sarial de Portugal (CIP), em parceria com a McKinsey,
indicava no início de 2019 que “50% do tempo despen-
dido em tarefas laborais atuais é suscetível de ser auto-
matizado, recorrendo-se à tecnologia atual, podendo
aumentar para 67% em 2030”. Num cenário intermédio,
isso pode implicar que 1,1 milhões de trabalhadores se
venham a tornar redundantes até 2030, com os setores


Ascensão da máquina
Segundo o Fórum Económico
Mundial, dentro de cinco anos
o tempo que os humanos
e as máquinas despendem
em tarefas relacionadas com
o trabalho deverá equilibrar-se,
levando ao abrandamento
da criação de emprego.
Já o ritmo de destruição
de postos de trabalho poderá
manter-se elevado, o que
obrigará a maiores esforços
de reconversão e requalificação

CAMINHOS ÚTEIS


Melhorar as competências
e manter-se no radar de possíveis
empregadores podem ajudar
a acelerar transições ou a
regressar ao mercado de trabalho

> MANTER E REFORÇAR A REDE

O distanciamento imposto pela pan-
demia vinca ainda mais a necessidade
de manter vivo o leque de contactos,
sobretudo nas redes sociais. Ter o
currículo atualizado, consultar frequen-
temente o LinkedIn e interagir com as
ligações existentes pode ajudar a abrir
portas para um regresso ao mercado
de trabalho ou para um novo emprego.
Nos casos em que tal é possível, de-
monstrar experiência em tecnologias
de trabalho remoto pode ser um ponto
diferenciador.

> APOSTAR NA FORMAÇÃO

Não será cenário possível em todos os
casos – dado sobretudo o custo envol-
vido –, mas o ideal para quem se en-
contra entre empregos, ou procura uma
primeira colocação, será aproveitar para
investir em formação e na melhoria de
competências, através, por exemplo,
de pós-graduações. No caso das tec-
nologias, uma das áreas mais quentes,
muitas ofertas requerem competências
em plataformas, sistemas e linguagens
de programação como Java, outsystem,
QA, SAP, Cyber ou Python, segundo o
COO do ManpowerGroup, Rui Teixeira.

> EM CIMA DAS OFERTAS

“É fundamental estar atento ao merca-
do. Não parámos, as oportunidades que
existem hoje são muito reais. Quem
está a recrutar é porque tem muita ne-
cessidade de que aquela posição seja
preenchida”, defende Pedro Borges
Caroço. O Senior Executive Manager da
Michael Page aconselha quem procura
emprego a continuar empenhado na
pesquisa, a procurar o mais possível
nos sites, a perceber para onde está a
ir o mercado, potenciando essas opor-
tunidades. “Todas as posições estão a
ser fechadas com sucesso, porque são
poucas e fundamentais”, conclui.
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