Exame - Portugal - Edição 440 (2020-12)

(Antfer) #1
DEZEMBRO 2020. EXAME. 21

do comércio a serem os mais atingidos. Em contrapar-
tida, previa-se entre 600 mil e 1,1 milhões de postos
de trabalho criados na sequência da combinação entre
automação e crescimento económico.
O retrato do Fórum Económico Mundial aponta no
mesmo sentido. Até 2025, prevê-se que, ao nível global,
humanos e máquinas gastem o mesmo tempo em tarefas
relacionadas com o trabalho. A criação de emprego deverá
abrandar e o ritmo de destruição poderá continuar alto,
obrigando a um grande esforço para se dotar os trabalha-
dores das profissões descontinuadas de competências que
lhes permitam assumir outro tipo de funções. A recon-
versão de mão de obra de setores em declínio e de outros
que não recuperem para os níveis anteriores a março de
2020, além da resolução do défice crónico de competên-
cias digitais dos trabalhadores, são alguns dos maiores
desafios para o ciclo de recuperação do pós-pandemia.
As novas forças que vão puxar pelo mercado de tra-
balho parecem estar bastante desencontradas das ca-


PREPARAR AS NOVAS GERAÇÕES PARA O FUTURO


Uma empresa portuguesa está a desenvolver experiências e conteúdos educativos, que
ajudam os jovens a criar competências para enfrentar os desafios do mercado de trabalho

As alterações dos modelos empresa-
riais, a automação e a cada vez maior
utilização da Inteligência Artificial no
mundo dos negócios terão um forte
impacto na organização laboral como
hoje a conhecemos. Um estudo do
Fórum Económico Mundial admite
que 65% das crianças que estão agora
a entrar na escola básica vão trabalhar
em profissões que ainda não existem.
Para tentar dar resposta a este proble-
ma, dois portugueses decidiram criar
a The Inventors, uma empresa que
desenvolve conteúdo educativo des-
tinado a preparar as novas gerações
para esta realidade. “Nós criámos,
de raiz, experiências educativas que
despertem a curiosidade das crianças
e lhes permitam desenvolver capaci-
dades que não são estimuladas nas
escolas”, diz José Malaquias, um dos
sócios da The Inventors.
Estas experiências vão desde a cons-
trução de um piano até ao desenvol-
vimento de um filme de animação. O
fundamental, explica José Malaquias,
“é que tenham sempre associadas a
criatividade, a engenharia e as artes.
Nós temos uma postura disruptiva,

que pretende despertar a curiosidade
e incentivar as crianças a encontrar
o seu caminho e a pensar de uma
maneira diferente. E o pensamento
criativo será uma das ferramentas
mais importantes para que pos-
sam enfrentar o futuro mercado de
trabalho”.
Em apenas quatro anos de existência,
a The Inventors já deu formação a
28 mil crianças, desenvolveu 400
mil experiências e tem atividade em
170 escolas nacionais. O sucesso em
Portugal levou-os a experimentar o
conceito no estrangeiro. Há cerca de
um ano, entraram em duas escolas do
Reino Unido – bastaram-lhes poucas
semanas para começar a desenvolver
trabalhos em mais 23. “Estávamos a
crescer no mercado britânico quando
surgiu a pandemia, o que nos obrigou
a refrear os projetos”, diz Manuel
Câmara, outro dos fundadores.
Mas, por outro lado, foi a mesma
pandemia que os colocou sob os ho-
lofotes da Europa. “Em março, assim
que se começou a falar de confina-
mento, começámos a desenvolver
ferramentas de ensino remoto, quer

para os alunos, quer para os forma-
dores. Quisemos perceber como as
experiências funcionavam no digital.
Tivemos cinco mil famílias a aderir”,
conta Manuel Câmara. O êxito desta
ferramenta digital levou-os a serem
selecionados pelo Impact EdTech,
programa da União Europeia lançado
no contexto da Covid-19 para resolver
problemas de aprendizagem e ensino
à distância.
Agora, pensam levar este conceito
para as universidades. Manuel Câmara
diz que “muitas faculdades não estão
a acompanhar a disrupção que está a
acontecer no mercado de trabalho”.
“Hoje em dia, para estar a um nível
competitivo no mercado de trabalho,
um aluno terá de fazer uma boa parte
da aprendizagem fora da universida-
de. Sobretudo no lado prático.”
Com a rápida transformação e evo-
lução tecnológica, Manuel Câmara
sublinha que uma das ferramentas
mais importantes para o futuro será
a de “aprender a aprender”. E é essa
capacidade de aprendizagem perma-
nente que a The Inventors pretende
transmitir às novas gerações. P. M. S.

racterísticas do emprego em Portugal e a reconversão
não será necessária apenas nos setores mais atingidos
pela crise. Mesmo sem pandemia, o País enfrentava já
um desafio enorme de preparar a mão de obra para
uma economia digitalizada. “Existem défices estrutu-
rais de qualificações já conhecidos, designadamente os
associados aos setores emergentes, como é o caso das
tecnologias de informação, da programação e das en-
genharias”, indica o IEFP. A ministra do Trabalho, Ana
Mendes Godinho, defende, numa entrevista nesta edi-
ção da EXAME, que este é o momento para se apostar
“em áreas económicas de futuro, seja no digital, na ener-
gia e na sustentabilidade ambiental, seja na área social”.
A crise da Covid-19 veio acelerar essa necessidade
de requalificação, com reflexo nos instrumentos nacio-
nais. O Plano de Recuperação e Resiliência, apresenta-
do por Portugal a Bruxelas, contempla um total de 360
milhões de euros para qualificação de competências
para a inovação e renovação industrial e 650 milhões
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