- EXAME. DEZEMBRO 2020
A
daptabilidade, flexibilidade, dele-
gação de tarefas, responsabilização.
Tudo palavras que soavam bem, mas
diziam pouco, e que agora as empre-
sas foram mesmo obrigadas a levar a
sério, sobretudo as que sabem que não podem perder
o comboio que passou, ainda mais veloz, durante esta
pandemia. O aviso foi feito pelo painel de especialis-
tas que se reuniu virtualmente no último dia de O Fu-
turo do Trabalho, para falar sobre como serão
as novas formas de o fazer, lembrando ainda
que o teletrabalho pode ser a face mais visível
de uma série de mudanças que serão sempre
muito mais profundas e muito mais alargadas
do que parecem à primeira vista. “Chamámos
a esta segunda fase a Covid 2.0. Ninguém ti-
nha verdadeiramente experiência de gestão de
pandemias em Portugal e, portanto, no início,
fizemos tudo o que podíamos com o que sa-
bíamos, mas, desta vez, já nos pudemos pre-
para um bocadinho mais”, começou por dizer
Catarina Horta, diretora de Capital Humano
do Novo Banco. A responsável explicou que a
possibilidade de trabalhar remotamente já existia na
instituição, dentro de um pacote chamado “Dividen-
do Social”, mas que apesar de haver iniciativas que são
muito bem acolhidas – como entrar mais tarde à segun-
da-feira e sair mais cedo à sexta-feira ou ter oportuni-
dade de levar para casa, a um preço reduzido, refeições
do refeitório –, o teletrabalho tinha muito pouca adesão,
“porque basicamente as pessoas acreditavam que o che-
fe ia achar mal. Nos primeiros 15 dias [da época a que
TELETRABALHO
É A “PONTA
DO ICEBERGUE”
Painel de especialistas tentou ante-
cipar as competências que vão ser
necessárias num contexto laboral
que nunca mais voltará ao que era
Texto Margarida Vaqueiro Lopes
NOVO TRABALHO
Formação ao longo
da vida e um regime
laboral adaptado ao
que é a diversidade
geracional que
compõe o tecido
laboral do País
são inevitáveis
chamam] Covid 1.0, as pessoas perceberam
que o chefe não só não achava mal como até
conseguiam trabalhar bem ou até melhor,
em casa. Penso que, portanto, isto pode ter
vindo para ficar”, considera. Na Talkdesk,
o trabalho remoto já era algo relativamente
normal – nos EUA, 40% das equipas foram
contratadas nesse pressuposto, e, com 80%
dos postos em solo nacional a estarem li-
gados a funções tecnológicas, foi algo facil-
mente acomodado pelos trabalhadores. “A
nossa vontade era deixar as pessoas o mais
à vontade possível para escolherem onde querem estar
a trabalhar – muitas voltaram para a Madeira, para Co-
imbra, para os Açores, lugares de onde tinham vindo só
para trabalhar”, realça Francisca Matos, Talent Direc-
tor na Talkdesk. “Neste momento, os nossos escritórios
encontram-se encerrados. Algumas pessoas estão com
opção de coworking; outras criaram um escritório em
casa – a Talkdesk montou um pack de equipamento que
as pessoas podiam recolher e levar”, e a empresa tentou