30. EXAME. DEZEMBRO 2020
A
na Mendes Godinho diz à EXAME que,
com a chegada da pandemia, “passa-
ram a fazer-se coisas que pareciam
impossíveis e de forma rápida”. Uma
dessas transformações à velocidade da
luz foi o teletrabalho, que nos traz muitas oportunidades,
mas também, como a ministra reconhece, a necessidade
de regulação.
É correto concluir que os números do desemprego
são difíceis de ler porque há muita gente cuja situa-
ção laboral não é clara?
Num primeiro período, sim. Tínhamos situações muito
atípicas. Agora já conseguimos ter um retrato mais fiel
da realidade. A pandemia também mostrou a quantida-
de de situações atípicas que tínhamos e que estas novas
formas de trabalho têm de ter uma resposta diferente. Foi
evidente o número de situações e medidas extraordiná-
rias que tivemos de criar para responder a pessoas que
ficavam fora do sistema.
Durante muito tempo referiu-se que Portugal tinha
um problema de precariedade. Nesta crise, vimos
os custos dessa precariedade e dessa informalidade.
Pode fazer mudar alguma coisa?
Isso leva-nos a repensar o sistema e a trazer para dentro
da economia formal uma quantidade de situações que
estavam fora. Muitas vezes porque as próprias pessoas
não tinham identificado vantagens em fazer parte do sis-
tema, que ficaram agora evidentes. Quantas mais pessoas
fizerem parte dele, mais a resposta coletiva pode ser forte.
Mas o próprio sistema tem de se adaptar a novas formas
e relações de trabalho para conseguir enquadrar essa ati-
picidade. Foi dado um passo importante com os tra-
balhadores a recibos verdes. Muitos tinham entrado no
sistema, mas ainda não tinham o prazo necessário para
serem abrangidos. Há dois desafios grandes: ter relações
de trabalho e emprego sustentáveis; regular as novas for-
mas de prestação de trabalho. Estas duas bandeiras têm
de mobilizar a sociedade, até para dar respos-
ta aos jovens que, como sabemos, foram
dos primeiros afetados pela pandemia,
até porque muitos tinham contratos a
termo. Uma terceira área são as qualifi-
cações e a reconversão. É o momento
para aproveitar isso. Aposta em áreas
económicas de futuro, seja no digi-
tal, na energia e na sustentabilida-
de ambiental, seja na área social.
Sabemos o que vai marcar
as prioridades estratégicas
do País. Como será feito o
casamento da formação
com essas áreas? Como
se pode dirigir as pes-
soas para aí?
Faz parte da liberdade
de cada um, mas pos-
so dizer que, no Progra-
ma UPSkill, sentimos
uma espetacular mo-
bilização das pessoas.
O programa pretende
juntar as necessidades
do mercado à forma-
“AS PESSOAS NÃO TINHAM
IDENTIFICADO VANTAGENS EM
FAZER PARTE DO SISTEMA”
Em entrevista à EXAME, no âmbito do fórum O Futuro do Trabalho,
a ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social explica
as transformações que estamos a observar no mercado de trabalho
e qual deve ser o papel do Governo
Texto Tiago Freire
ENTREVISTA