DEZEMBRO 2020. EXAME. 45
“A sustentabilidade era um grande tema,
que foi ultrapassado pela direita pela pan-
demia. Ainda assim, nota-se nas vendas a
tendência de as pessoas quererem comprar
embalagens sustentáveis”, considera Miguel
Pina Martins, CEO da Science4you. A em-
presa, que tem dentro de fronteiras mais de
90% da produção dos seus brinquedos ci-
entíficos, apostou nos últimos meses numa
nova linha de artigos ligados à ecologia, que
privilegia materiais biodegradáveis e plásti-
cos de múltipla utilização – um lançamen-
to na reta final de um ano muito complexo
para a empresa, que enfrentou diretamente
os efeitos do confinamento, com o fecho de
pontos de venda e a queda da atividade pela
alteração forçada das rotinas.
“Fomos habituados a comprar brin-
quedos para oferecer nos aniversários,
mas sem festas de aniversário criam-se
muitas dificuldades”, argumenta. Só o
“instinto de sobrevivência”, que levou a
empresa a reorientar parte da ativida-
de para produzir álcool-gel e ócu-
los de proteção, deverá ter evita-
do que a pandemia passe este ano
uma fatura pesada à Science4y-
ou. Mas ainda falta o Natal.
Depois do primeiro choque da Co-
vid-19, é essa a grande incógnita para o se-
tor, já que as vendas de outubro a dezembro
costumam responder por mais de 60% do
negócio de todo o ano, segundo a Concen-
tra. Há que ter em conta não só o orçamen-
to disponível das famílias, depois de a cri-
se de saúde pública ter cilindrado alguns
empregos, como os receios dos consumi-
dores de se deslocarem a grandes espaços
e as restrições de abertura de lojas, que já
fizeram danos nos fins de semana de no-
vembro, durante o estado de emergência.
“Em março e abril, nas apresentações
de Natal por videoconferência, percebi que
o retalho estava bastante apreensivo, que
havia maior apetência por apostas mais se-
guras em marcas e produtos mais consoli-
dados”, conta Ricardo Feist. À conta disso,
a Concentra, que tinha previsto lançar dez
marcas novas este ano, acabou por adiá-lo
para 2021. Agora, aposta as fichas na épo-
ca natalícia, que poderá ajudar a mitigar
as perdas do ano. “É recuperável se o Natal
correr bem. Ter lojas fechadas aos fins de
semana é uma notícia muito preocupan-
te. Vamos ver se se consegue colmatar com
compras durante a semana.” Carlos Ávila
partilha a mesma opinião: “Vai depender
tudo destes meses antes de Natal. As gran-
des superfícies começam a adaptar-se e a
fazer campanhas de desconto durante os
dias da semana. Está a ser muito difícil,
mas não está perdido.”
Mais tranquilas parecem estar as re-
sistentes Maia & Borges, IRMEL e PePe. A
primeira já entregou, em agosto, as enco-
mendas que tinha para esta época e está
a produzir a todo o vapor para 2021; para
as outras duas, as verdadeiras épocas for-
tes são a primavera ou o verão: “Este ar-
tigo é mais vendido nas feiras. No Natal,
é quando menos se vende”, justifica Júlio
Penela. “Nesta altura, os miúdos querem é
bonecos que choram, querem é bonecos
com pilhas.” E isso, definitivamente, não
se encontra na fábrica de Alfena, onde não
há apps, drones que fazem piruetas ou bo-
necas com o último look. Para fazer andar
um comboio ou um carro, é preciso rodar
uma chave de metal ou friccionar os pneus
no chão. A diversão acaba ao fim de uns se-
gundos, quando se esgotar a corda. “Aqui,
produz-se como há 100 anos. As máquinas
só estão cá para auxiliar”, remata. E
Produzimos
cá a primeira
edição [do jogo],
mas depois
optámos pela
China, porque
a qualidade
e o preço
não têm
comparação.
As fábricas
cá não estão
preparadas”
Carlos Ávila
Diretor comercial
da Creative Toys