DEZEMBRO 2020. EXAME. 47
imobiliários, que não é desejável ou é exa-
gerada, mas a forma de solucionar isto não
é simplesmente proibir esse investimento.
Tem que ver com criar alternativas seguras
e que deem confiança aos investidores para
que possamos alterar os números”, defen-
de. Proibir estes vistos “traria danos repu-
tacionais maiores ao País, que podiam até
afetar o investimento noutras áreas”, diz o
CEO da Kleya, empresa em que os clientes
atraídos pelos vistos gold se contam ainda
“pelos dedos de uma mão”.
SUSPENSOS, MAS NÃO CANCELADOS
Não fosse a pandemia e os projetos que por
causa dela ficaram em standby (cerca de
50% a 70% do volume de negócios adicio-
nal que poderia ser concretizado) e este ano
seria o primeiro em que a Kleya atingiria re-
sultados positivos. Quando fechar o exercí-
cio de 2020, a faturação em vez de duplicar,
como se previa, deverá ficar muito perto do
de 2019 (590 mil euros), um ano em que o
resultado líquido estava no vermelho (190
mil euros). Ainda que o CEO não se diga
preocupado com obter lucro num determi-
nado ano: “Temos muito clara a nossa estra-
tégia e onde queremos chegar.”
A aposta feita nos últimos anos na digi-
talização da empresa, na sequência da com-
pra pela Ageas (ver caixa Vender serviços
com seguros), e a concentração em terri-
tórios de menor densidade no País deverá
ajudar a alavancar a atividade da consultora
no pós-Covid-19, que acredita que tendên-
cias como o teletrabalho e o respeito pelo
ambiente podem favorecer a deslocaliza-
ção para áreas menos povoadas: “Os poucos
projetos que não ficaram em suspenso são
para zonas do Interior, como um glamping
muito perto de ser concretizado no Alentejo
por um investidor espanhol.”
ENTRADA PASSO POR PASSO
Os clientes, de um segmento muito alto
e à procura de viver ou investir em Por-
tugal, chegam quase sempre por passa-
-palavra ou através de redes de contactos
e “antenas” em países como Brasil, EUA,
Canadá, Austrália, Reino Unido, França e
Espanha. O percurso é muito semelhante:
uma primeira paragem em Lisboa ou no
Porto, onde alugam casa. Depois, a compra
de uma primeira e até segunda habitação,
quando começam a ter segurança e per-
VENDER SERVIÇOS
COM SEGUROS
“Casamento” da Kleya com a
Ageas, em plena pandemia, prova
“visão de longo prazo”, diz o CEO
Em 2018, três anos após a sua criação, a
Kleya ganhou novo parceiro com a com-
pra pela belga Ageas de 24% desta con-
sultora integrada, que faz negócio a trazer
estrangeiros para viverem em Portugal.
“Para nós foi surpreendente”, admite o
CEO, Vasco Rosa da Silva, recordando a
aproximação através do braço europeu
da multinacional. A compra pela AGEAS
Portugal Holding (dona da portuguesa
Ageas Seguros) permitiu investir na
transformação tecnológica da Kleya “para
chegar a um mercado maior e com so-
luções acessíveis a uma gama maior de
pessoas,” nomeadamente digitalizando
processos para a relação com o cliente,
descreve o responsável à EXAME.
Em agosto deste ano, atingidos os obje-
tivos definidos na entrada no capital, os
belgas compraram a totalidade da Kleya,
mesmo em ambiente de pandemia
que impediu a empresa de ter este ano,
como esperado, os primeiros resultados
positivos. “A Covid-19 foi entendida como
algo conjuntural e não trouxe dificuldades
de maior. Ter uma visão de longo prazo
facilita o ‘casamento’. Por isso, a nossa
união correu tão bem”, assegura Vasco
Rosa da Silva, que abdicou do valor da
venda da sua participação para que fosse
investido na consultora. Em contrapartida,
fica na gestão e com uma participação
nos lucros.
O objetivo é integrar a empresa no
conceito de beyond insurance da Ageas,
segundo a qual os seguros, cada vez
mais uma commodity, devem ser
ancorados a uma oferta de serviços,
vocacionados neste caso para cidadãos
estrangeiros. “Todo um ecossistema para
proteger e dar segurança às pessoas
e onde se podem criar projetos muito
interessantes”, reflete o CEO. Entre as
sinergias a explorar, o responsável vê o
desenvolvimento de seguros em pacote
que incluam serviços prestados pela
empresa portuguesa: “Como alguém que
tenha seguro da casa e precise de apoio
para gerir a habitação na sua ausência”,
exemplifica.
[Com os vistos gold]
houve em Lisboa
e no Porto uma
valorização
de imobiliário que
não é desejável, mas
a forma de solucionar
não é simplesmente
proibir esse
investimento”
Vasco Rosa da Silva
CEO da Kleya