Exame - Portugal - Edição 440 (2020-12)

(Antfer) #1

Macro



  1. EXAME. DEZEMBRO 2020


Da presença da ajuda humanitária, cé-
lere a chegar nos dias após a explosão do
porto, restam agora algumas tendas vazias.
Muitas delas servem até de estacionamento
para motas, outras de espaço de descanso
para os trabalhadores da construção civil
que fazem renascer os edifícios destruídos
há cerca de dois meses. “Continuamos a
tentar trabalhar em rede com algumas
ONG, mas são muito poucas as que estão
ainda cá”, lamenta Mira Rasbieh, respon-
sável por um consórcio de organizações
que, além de prestar apoio aos mais ido-
sos, se concentra bastante na saúde femi-
nina. “Distribuímos dignity kits (cabazes
com produtos de higiene feminina) às mu-
lheres mais necessitadas; prestamos apoio
domiciliário a grávidas e a recém-mães...
Mas a verdade é que não chega. As famí-
lias estão a passar muitas necessidades
e nós só atuamos na área da saúde”, ex-
plica Mira. Tem conseguido, ainda assim,
trabalhar com a Nusanet e com a Caritas,
por exemplo, para tentar criar uma rede de
apoios transversal aos mais necessitados. E
pede à comunidade internacional que não
se esqueça do povo libanês. “Continuamos
a precisar de ajudar financeira para nos
mantermos no terreno”, pede.


ESPERANÇA E ALEGRIA
Uns metros mais à frente, encontramos Ro-
drigue Herb, um ilustrador transformado
em empreiteiro voluntário, que se desdobra
entre carpintarias provisórias, fios de eletri-
cidade e idosos com olhar perdido. Está a
trabalhar para a Offre Joie, uma ONG liba-
nesa que tem sido fundamental para a recu-
peração dos edifícios destruídos em Beiru-
te. “Começámos a fazer o levantamento das
necessidades ainda no dia da explosão. Dois
dias depois, estávamos no terreno a traba-
lhar”, atira-nos antes de interromper para
receber um grupo de voluntários que hoje
vai trabalhar aqui, num dos bairros mais
afetados pela detonação, e onde a institui-
ção já recuperou 45 apartamentos. As doa-
ções foram feitas pela sociedade civil, desde
particulares a empresas que cederam mate-
riais de todo o tipo. Os trabalhadores espe-
cializados – canalizadores, eletricistas, car-
pinteiros – estão a oferecer mão de obra em
troca de transporte e refeições, e muitos ou-
tros voluntários estão a aprender a construir
paredes ou pintar portas. Por este bairro, em
particular, passaram dois mil voluntários
em dois meses. As autoridades apareceram
apenas para aprovarem o que estava a ser
feito, e os moradores recusaram-se a sair. “A

A Offre Joie
deu-me tudo
de volta.
Reconstruiu
tudo.”

Charbel
Morador do bairro recuperado
pela Offre Joie, em Beirute
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