Revista Literária Prosa & Versos

(Anita Santana) #1

invadirem seu quarto para escarafunchar, no baú velho, as possibilidades, que
eram muitas, de encontrarem balas que ele escondia. Aquelas eram as balas mais
gostosas já provadas, pois tinham gosto de aventura.


O velho tinhas duas paixões, livros e gatos! E nisso, sou muito parecida com
ele. Tenho muitas características de minha família paterna, mas acredito que essas
sejam as mais marcantes. Porém, não herdei dele a serenidade, seriedade e sabe-
doria nas poucas vezes que falava.


No dia de sua morte, apesar da tristeza instaurada, ficou notório o quanto
ele era querido. Toda a redondeza estava presente para velá-lo, por horas... chás,
biscoitos, comida, fogueira. Em seu velório teve tudo que têm em qualquer velório
que se preze em minha região. Mas o que ficou mais marcado em minha mente, foi
a presença ilustre de Barney^1 , seu gato amarelo, gordo, o tempo inteiro embaixo
de seu caixão. Acho que foi ele que mais sentiu sua falta ao longo dos anos. Me
recostei, quase sentada, na meia porta da cozinha (uma mania que tive por todo o
tempo que a velha casa foi habitada) e fiquei pensando no que seria do pobre gato.


Hoje, vendo meu filho e suas gatas, me bateu uma saudade gostosa de minha
infância na Lagoa Seca, das brincadeiras com meus primos, do olhar do meu avô,
da meia porta da cozinha, das simples e melhores coisas da vida! A imagem que fica
agora é da velha casa de meu avô, outrora tão cheia e animada, com seu fogão de
lenha aceso e o caldeirão lotado de pamonhas feitas por minha mãe e meus tios. É,
de fato, uma pena saber que agora ela está vazia de pessoas. Mas ela nunca estará
vazia de sentimentos e memórias.


Seabra, 28 de Julho de 2020

1 Alguns dias depois soube que Barney, depois do sepulto, sumiu por 7 dias. Ao retornar, estava magro
e desnorteado sem entender o que tinha acontecido, e para completar a solidão do bichano, meus tios, que até
então moravam na casa de meu avô, já tinham mudado para a casa deles, onde o mesmo foi adotado até a sua
morte.


Carla Brandão Lopes é graduada em Letras pela UNEB, pós-graduada
em Linguagem, Educação e Sociedade pela ISEGO, aluna especial do
Mestrado PPGEAFIN pela UNEB. Atua na Educação desde seus 18 anos,
e faz disso não somente seu emprego mas seu estilo de vida. Atualmente
trabalha como Coordenadora Pedagógica do Ensino Fundamental II e
como Professora de Ensino Médio na cidade de Seabra, que é sua cidade
natal. Tem escrito crônicas que mesclam as alegrias e tristezas da vida.
Mãe de três filhos. Dedicada, alegre e destinada a convencer as pessoas
que a educação é o melhor caminho para a evolução humana.
Free download pdf