marighella

(Ornilo Alves da Costa Jr) #1
EDSON TEIXEIRA DA SILVA JUNIOR 143

Freire, militante da Ala Vermelha do PC do B, afirma que Paulo de
Tarso de Venceslau fora o pivô da denúncia sobre o envolvimento dos
dominicanos com Marighella. Ambos estiveram presos no Deops de
São Paulo, “exceto sábado e domingo, recorda Freire, Venceslau era
levado para a tortura e durante muitos dias segurou muitas informa-
ções. Até que na madrugada de 28 para 29 de outubro Alípio ouviu
a nova confissão: – Abri o esquema dos padres”.^233
Não obstante, há de se fazer uma ressalva para não cometer
injustiça com os autores citados. Eles não se limitam a abordar
apenas as circunstâncias e os envolvimentos de pessoas na morte
de Marighella. Eles propõem análises sobre a trajetória política do
personagem, sendo uma tendência comum as intervenções políticas
de Marighella, em principal quando do seu desligamento do PC e a
inserção na luta armada.
A morte de Marighella tem um significado muito mais amplo a
ser abordado. O que ocorreu no dia 4 de novembro de 1969 foi um
assassinato cometido pela polícia de São Paulo, liderada pelo delegado
Sérgio Paranhos Fleury, a serviço da ditadura civil-militar instalada
desde 1964 no país. Fato que foi reconhecido pela Lei nº 9140/95
da Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos durante
o regime militar. O envolvimento dos padres dominicanos é assunto
mais do que encerrado. O envolvimento de Paulo de Tarso acrescenta
um dado significativo para o cerco à ALN e a Marighella.
Entretanto, por trás dessas indicações é importante salientar que
a morte de Marighella deve estar associada a um momento em que a
Ação Libertadora Nacional preparava um deslocamento em direção
a área rural. Marighella tinha viagem marcada para o Mato Grosso,
em 9 de novembro de 1969, logo, cinco dias depois de sua morte.^234
Por mais que tenha prevalecido a derrota militar das organizações


(^233) JOSÉ, Emiliano. Op. cit., p. 42.
(^234) Cf. depoimento de Clara Charf colhido pelo autor em 15.12.1998.

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