marighella

(Ornilo Alves da Costa Jr) #1
EDSON TEIXEIRA DA SILVA JUNIOR 161

Tereza – Minha mãe lia pouco e na hora da lição ele já estava
sabendo mais do que ela.
Edson – E namoro, ele era muito namorador?
Tereza – As garotas eram loucas por ele, mas ele não tinha tem-
po não. As garotas ficavam frustradas porque ele não tinha tempo,
jogava uma coversinha e daqui a pouco já tinha ido embora. E as
garotas perguntando por ele, batendo na porta, me chamavam para
perguntar por ele, eu dizia não sei, não sei, namoro não foi muito não,
foi pouco. Depois que ele veio aqui para o Rio é que ele se envolveu
com o grande amor da vida dele que foi, sem dúvida, a Clara, que
ele escreveu vários poemas em sua homenagem.


Edson – Ele serviu ao Exército?
Tereza – Serviu, me lembro que ele tinha a perneira, que colocava
a calça por dentro, abotoava. Não sei se era o exército, tinha outro
nome lá na Bahia.


Edson – Quando ele ainda adolescente tinha o hábito de escrever?
Tereza – Bom, tinha o hábito de escrever, pois, nesse livro aí
tem poemas dele que data de 1931, 1932, por aí assim. Mas ele não
dava para ninguém ver. No tempo que ele estava lá em casa, ele tinha
um quarto com os livros dele, a biblioteca dele, ninguém mexia. Ali
era sagrado, era do “Carrinho”, como a gente chamava ele, porque
quando nós éramos pequenos não sabíamos dizer Carlinhos, a língua
não dava, e ficou “Carrinho, Carrinho, Carrinho”, ele atendia por
Carrinho. Então, com as coisas do Carrinho ninguém mexia não.


Edson – Quando ele passou à política, como foi isso na família,
qual foi a reação da família, vocês já sabiam?
Tereza – Foi um choque. Quando ele entrou na política nós só
ficamos sabendo quando ele foi preso. Antes nós não sabíamos que
ele estava envolvido com militância política, não sabíamos nada disso.

Free download pdf