marighella

(Ornilo Alves da Costa Jr) #1
166 CARLOS, A FACE OCULTA DE MARIGHELLA

morava em São Paulo. Ele foi o padrinho e minha avó a madrinha.
Ele era católico e fez primeira comunhão.


Edson – Quando já era comunista, ele manteve uma posição
religiosa?
Tereza – Bom, eu não sei. Mas que ele entrava na igreja, ele
entrava. Tanto que quando minha mãe faleceu, em 1947, ele foi à
missa do sétimo dia. No enterro, ele não foi porque não deu tempo,
mas na missa de sétimo dia ele foi.
Ele era inteligentíssimo. Nunca deu trabalho na escola primária
e no ginásio. Sempre no final do ano, depois de todas as provas, ele
chegava em casa e dizia para mamãe: – Mãe, fui chutado. Isso queria
dizer “fui aprovado”.
Quando ele estava no ginásio ele já começou a fazer das dele.
Então, ele fazia greve, não ia à aula, faltava à aula e quando chegava
o dia da prova ele aparecia para fazer a prova, e tirava aquele notão.


Edson – Isso no ginásio?
Tereza – É, no ginásio. Ele não ia à aula. Os colegas iam lá em
casa para ele explicar o que os professores explicavam, mesmo se ele
não estivesse na aula, mas ele sabia explicar para os colegas. Sempre
ele reunia os colegas que estavam com dúvidas em alguma matéria,
sobre a aula que ele assistia ou não.
Ele era alegre e brincalhão, ele botava apelido na gente, cada um
tinha um apelido, eu não me lembro bem, eu sei que um era o da irmã
Julieta, era canela de sabiá, ele dizia que era canela de sabiá porque ela
tinha as pernas finas. O outro, meu irmão Caetano, ele dizia que era
sergipano, porque sergipano não tinha pescoço, era pescoço enterra-
do, então, chamava o Caetano de sergipano. Eu era professora sem
juízo, para cada um ele inventava um apelido. A outra minha irmã
chamava-se Edwirges, tinha uma velha que ia lá em casa todo dia,
minha mãe gostava muito de ajudar pessoas idosas e pessoas carentes,

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