marighella

(Ornilo Alves da Costa Jr) #1
168 CARLOS, A FACE OCULTA DE MARIGHELLA

fazer isso, cortar o sapato para fazer isso! E ele então: – Mãe! Jesus
Cristo andou de sandália, por que eu não posso andar?


Edson – Na escola era proibido... o que ele queria era...
Tereza – Na escola era proibido, isso para chamar a atenção,
fazer algum protesto para dizer que aquilo não tinha nada a ver, que
o sapato não tinha nada a ver com a escola.


Edson – O carinho e a aproximação dele parece comum aos irmãos?
Tereza – É. Eu já fazia a faculdade e ele se lembrou de enviar o
dicionário. Quando eu terminei o curso normal, em Salvador, escrevi
para ele e ele me mandou o dicionário de francês e Os Lusíadas. Longe
de nós. Isso demonstra que ele nunca havia esquecido. Eu me casei
em 1951, eu acho que ele estava cassado, ele mandou uma pessoa,
eu morava com minha irmã Anita, na Vila da Penha. Ele mandou
um moço, eu nem estava em casa na hora, mandou levar o dinheiro
para eu comprar meu vestido de noiva.


Edson – Aí não precisou de a senhora ir pelos seus próprios
caminhos...
Tereza – O Caetano ainda chegou a trabalhar com ele algum
tempo, não me lembro bem. Quando vim de Salvador, o Caetano
veio comigo, ele era o mais novo, ele mandou um recado para o
Caetano e eles se encontraram. Eu não sei se o Caetano ficou com
ele algum tempo, só sei que ele trabalhou com o Carlos. Não sei se
era de motorista, não sei se para o pessoal do partido. Mas o Caetano
não tinha veia política nenhuma.


Edson – Eram quatro homens e quatro mulheres, como o senhor
Augusto Marighella sustentava essa família?
Tereza – Seu Augusto Marighella tinha uma oficina mecânica,
ele era engenheiro mecânico, eu me lembro que tinha um quadro na

Free download pdf