marighella

(Ornilo Alves da Costa Jr) #1
EDSON TEIXEIRA DA SILVA JUNIOR 181

Clara – Pois então, esse homem, a primeira pergunta que você
fez foi como ele era fisicamente, aquele homem de porte atlético,
que se não fosse a circunstância da luta, da vida clandestina, seria
engenheiro, esportista etc. Procurava ao longo dos seus dias ter esses
traços de seu comportamento. Isso é uma coisa muito interessante.
Mas voltando ao físico. Ele realmente adorava caminhar, para ele
não tinha problema. Quando ele foi clandestino em São Paulo, 1937,
1938, os companheiros daquela época contavam que ele gostava muito
de doce, ele tinha pouco dinheiro. Ele, por exemplo, saía da Penha,
que é um bairro de São Paulo, para o centro da cidade, se ele tivesse
que ter um encontro com alguém, fazer um contato, ele tinha que
tomar uma condução. Como ele gostava muito de doce e tinha pouco
dinheiro, ele vinha a pé, eram caminhadas gigantescas, para ele poder
comprar o doce com aquele dinheirinho. Mas, independente disso,
ele caminhava para poder economizar o dinheiro e comprar o doce.
Gostava muito de caminhar. Quando ele era deputado, caminhava
do escritório parlamentar, onde ele e todos os deputados comunistas
trabalhavam (era uma espécie de um coletivo, na Avenida Rio Bran-
co), até a Praça Tiradentes, jamais ele tomou uma condução, não era
tão longe naquela época, mas o negócio dele era caminhar. Fora isso
ele ia caminhar de manhã, a hora que ele estivesse livre ele ia para
a rua caminhar, quando tinha essa liberdade, não é? Ele elaborava
caminhando. Ele tinha muito essa característica. Ele caminhava e ia
elaborando os discursos, as ideias, aquilo que ele queria depois trans-
formar em fala ou em escritos. Qualquer oportunidade que ele tivesse
para caminhar, ele fazia isso. Ao longo de toda a vida dele foi assim,
tanto que para ele, coisa terrível, quando o cerco apertou, não podia
caminhar muito, para ele era um sofrimento terrível. Ele caminhava
dentro do lugar em que ele estivesse, fazia exercício para se manter.


Edson – Conforme a senhora falou, na clandestinidade?
Clara – É.
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