marighella

(Ornilo Alves da Costa Jr) #1
182 CARLOS, A FACE OCULTA DE MARIGHELLA

Edson – Nessas caminhadas ele tinha o hábito de parar para
conversar com as pessoas?
Clara – Não, isso depende.


Edson – Eu digo que além de caminhar ele tinha o hábito de
conversar com as pessoas?
Clara – Isso sim, foi a marca do comportamento dele. Na cadeia
foi assim. Ele criou escola, tentou fazer um trabalho cultural com
os presos. Foi exatamente por isso, ele achava que o ser humano era
importante nessa luta, e você tinha que manter as pessoas juntas,
lendo, uma ensinando a outra, não só ele ensinando a outros, mas
aprendendo com os outros, isso era o campo dele. Quando ele era
deputado, Marighella não era deputado de gabinete, era deputado de
andar na rua, de fazer contatos com os movimentos, tem fotos dele,
que não tenho aqui, ele sentado no trilho do trem, lá no Rio de Ja-
neiro, conversando com os operários, sentado no chão, tem uma foto,
as vezes sem paletó, batendo o maior papo. Isso era uma coisa inédita
para um deputado. Não estou dizendo a você que ele fosse o único
a fazer isso. Os deputados comunistas tinham um comportamento,
enfim, mas eu não vou analisar o dos outros, vou analisar o dele.
Ele tinha muito isso de conversar com todo mundo. Ele sentia
uma agonia enorme de ficar fechado. Ficava porque ele era muito
disciplinado. Na Câmara Federal, por exemplo, como ele era um
tremendo orador, mas ele tinha uma velocidade muito grande na
voz, para transmitir o pensamento dele, parecia uma metralhadora,
as taquígrafas, às vezes, não conseguiam nem pegar tudo o que ele
dizia. Então, as taquígrafas, quando terminava a sessão da Câmara,
diziam para ele, depois que todo mundo ia embora: – “A gente vai ter
que pedir a sua ajuda, pois teve uma frase que a gente não conseguiu
captar”. Ele ficava naquela paciência lá, ajudando a completar frases,
para ajudá-las, ele não deixava ninguém em dificuldades, muito menos
a taquígrafa que tinha que dar conta do trabalho dela. Mas, assim,

Free download pdf