marighella

(Ornilo Alves da Costa Jr) #1
184 CARLOS, A FACE OCULTA DE MARIGHELLA

mulheres, de classe média, ou operários, ou intelectuais que não
fossem conversar sobre esse problema? Então, eram os problemas do
cotidiano, a vida pessoal, o esporte, a cultura e os grandes problemas
da nação. Ele tinha que mobilizar as pessoas para lutar por aquelas
ideias que ele defendia. Ele não era deputado que falava dos problemas
dele. Ele falava dos problemas que a nação enfrentava, contestava,
criticava e denunciava.
Você pega o discurso dele na Câmara, eram sempre de contestação,
discursos denunciando ou propondo soluções para esses problemas.
Essa foi a grande característica que fez com que ele ficasse famoso
como deputado. De uma ação muito arrojada, muito corajoso, mui-
to decidido, muito ágil, determinado. A produção dele foi enorme,
segundo todas as pesquisas feitas até agora, ele fez 195 discursos, em
dois anos de Parlamento. Quer dizer, era um deputado presente, ia
todo dia, ouvia, falava, se posicionava, participava das comissões, ele
foi da Comissão de Finanças da Câmara, quando ainda no tempo da
Constituinte. Porque quando foram eleitos, em 1946, foi para fazer a
Constituição da época, tanto que ele é um dos constituintes daquela
época. Ele deu uma contribuição muito grande. Tem discursos dele
sobre orçamento, proposta, naquela fase, por quê? Porque aquela fase
era chamada a fase da democratização do país, depois do Estado Novo;
então é claro que o comportamento dele na Câmara era diferente do
que tinha sido o comportamento na luta clandestina anterior, ou o
que seria depois.


Edson – Por isso na época que a senhora se referiu à redemocra-
tização?
Clara – Claro. O parlamentar, o homem que faz política, vale
até hoje para qualquer um, você não faz a política só de acordos, do
seu desejo. Eu tenho a vontade de transformar o Brasil. Como eu
transformo hoje? Como? Por onde? Tem que estudar todas as circuns-
tâncias, como mobilizar o povo naquela luta junto com você, fazer

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