marighella

(Ornilo Alves da Costa Jr) #1
EDSON TEIXEIRA DA SILVA JUNIOR 191

porque como ele não tinha com quem falar, não é, então, foi muito
difícil. Ele tinha vocabulário, mas dificuldade para pronunciar.
Vamos admitir que aqui estivesse escrito, por exemplo, Gold,
uma hipótese, ele dizia – Gold – mas ele não sabia se se pronunciava
daquele jeito, entendeu? Só foi saber isso depois, quando saiu da
cadeia, quando começou a falar, mas tinha muita dificuldade para
falar. Ele não tinha muito bom ouvido para idioma. Tem muitas coisas
engraçadíssimas dele quando ele estudou inglês e depois quando foi
para a China. Tem mil histórias.


Edson – Uma delas que a senhora poderia dizer...
Clara – Uma delas, essa eu já contei para o Emiliano, em outra
época. Porque foi assim: isso não tem sequência, não tem cronologia
nenhuma o que eu tô falando para você, eu estou falando das carac-
terísticas dele. Então, quando ele foi à China, em 1953, a vitória da
Revolução Chinesa tinha sido em 1949, e até então, 1949, 1951,
1952, não havia ido nenhuma delegação oficial do Partido Comunista
à China, para fazer contato com o novo poder revolucionário de Mao
Tse-tung. E aí fizeram uma delegação e o Marighella foi chefiando
essa delegação. Então imaginava qual era o idioma que ele ia falar,
o chinês ele não sabia, então tinha que usar o inglês. Ele tinha um
vocabulário enorme de inglês, ele traduzia melhor que eu, ele falava
inglês, tinha um vocabulário muito grande, era uma espécie de “come
dicionário” – aquilo que a Tereza disse que parecia que ele comia um
dicionário, ele vivia pesquisando em dicionário, palavras, etc e tal;
com ansiedade, com aquela coisa de aprender mais. Então, no dicio-
nário ele via como é que escrevia as palavras e qual era o som, todo
dicionário tem isso, né? Aí ele aprendia por aquilo ali, mas aquilo na
hora de falar, não dá certo. Então, ele chegou em casa um dia, em
1952, fins de 1952 para 1953, ele chegou em casa e disse: – Clara,
eu preciso treinar inglês.
Eu disse: – “Para quê”?

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