marighella

(Ornilo Alves da Costa Jr) #1
242 CARLOS, A FACE OCULTA DE MARIGHELLA

Ana – Não, era o melhor, eu admirava que ele fizesse essa comuni-
cação e ainda tivesse essa capacidade de compreender o que as pessoas
podiam dar. Os humanistas franceses dizem que o herói é aquele que
faz tudo o que pode. Eu acho que todos nós somos heróis e heroínas,
quando você abre a janela de manhã e vê o homem limpando a rua.
Como você andaria na rua sem esse homem? Quando você come
um pão, quem plantou o trigo? Você iria comer o pão sem o trigo?


Edson – A senhora falou que Che era poeta e Marighella a senhora
presenciou ele fazendo poesias?
Ana – Ele gostava de escrever poemas. Era poeta, além disso gos-
tava muito de fazer palestras como eu, comunicação com as massas
populares, transmitir aos jovens, porque a convivência da gente era
meio difícil.


Edson – E na hora do lazer dele ele gostava de música, futebol?
Ana – Não, mais de ler, cansou de levar livros lá de casa para ler.
Eu tentava enfiar na cabeça dele esses humanistas franceses.


Edson – Ele discutia essas leituras com a senhora?
Ana – De vez em quando, mas, principalmente, história do Brasil.
Ele foi o primeiro a me despertar o interesse em não escrever estória,
mas sim história. Eu aprendi com ele uma coisa e depois fui buscar
no dicionário: é fatores e fautores, fautores é a motivação do fato,
nunca se usa essa palavra, fatos e fautores.


Edson – Ele que falou para a Senhora?
Ana – Foi a primeira pessoa que eu vi usar essas palavras, porque
o problema não era só ter efeito e causa, ninguém passa fome sem
causas, o mundo está cheio de comida, né.
Edson – Qual a relação que a senhora teve com Clara naquela
época?

Free download pdf