300 CARLOS, A FACE OCULTA DE MARIGHELLA
Carlos – Foge um pouco a sua tese mas... Aconteceram algumas
fases, uma fase que, por exemplo, foi ditada pela situação do pessoal
ainda ser legal. A gente usava entre os conhecidos, nós tivemos, do
ponto de vista clandestino, uma fragilidade, a origem toda conhecida,
frequentava a casa. Na fase do pessoal mais queimado, aí complicou,
tinha os aparelhos com pessoas nossas, que eram os donos da casa,
através de uma fachada legal ou alguma pessoa ainda legal, ou algu-
ma pessoa em processo de legalização, e tinha os aparelhos onde se
guardavam os arsenais.
O pessoal geralmente morava em quarto, apartamento alugado,
naquela época tinha muito esse lance de quarto, até hoje tem um
pouco, mas naquela época tinha muito. O dinheiro nosso era muito
curto, as expropriações, no nosso caso, foram de pouco resultado,
ficávamos com o mínimo, o grosso ia para sustentar a tal da guerrilha
rural. Os bancos, por causa do seguro, declaravam uma quantia muito
maior, não perdiam tempo.
Edson – Esse dinheiro – uma curiosidade – Marighella quando
ainda vivo, ele centralizava todas as ações ou as ações e o dinheiro
ficavam a cargo dos comandos?
Carlos – Não centralizava. Tanto é assim que há o caso do seques-
tro do embaixador estadunidense. Até ele não podia centralizar muito
porque iria de encontro ao próprio princípio dele, original. Aquilo
foi uma coisa muito importante num determinado momento, mas
que depois tinha que ser disciplinada, era até dialeticamente correta.
A centralização do dinheiro eu imagino que passasse por ele, por ter
um planejamento global.
Edson – Esse episódio do sequestro do embaixador estadunidense,
você chegou a participar de alguma discussão relacionada a esse fato?
Carlos – Não. Foi exatamente naquele período em que o Mari-
ghella estava me convencendo que eu tinha que ficar na geladeira e