302 CARLOS, A FACE OCULTA DE MARIGHELLA
Edson – Quando há esse cerco da repressão me parece que não
se preparava um movimento de massas.
Carlos – Quando eu falo da força é a compreensão de uma visão
filosófica do processo; do ponto de vista de estrutura de organização
político-militar era fraquíssima; a força que eu digo era a que nós
tínhamos para mobilizar e organizar a sociedade. Essa nós não com-
preendemos naquele momento histórico.
Edson – Você participou de alguma ponto com o Marighella?
Por exemplo, aquela batida, como foi isso?
Carlos – Ali ele achava que não ia ter, no subúrbio. A gente andava
muito no subúrbio.
Edson – Qual era a relação dele?
Carlos – Tranquila. Ele dominou o processo ali. Naquele dia
estávamos só nós dois no carro, aí ele deu a saída: “Vai por ali, por
ali”! Não chegamos a ser parados.
Edson – Eu imagino a situação.
Carlos – Adrenalina a mil por hora.
Edson – Um detalhe do ponto de vista metodológico. Na biografia
é recomendável você citar o codinome, ou nome de guerra. Qual era
o usado por Marighella?
Carlos – No meu caso, a não ser na primeira vez, usava Menezes.
Mas quando me encontrava com o Marighella já sabia que era com
ele mesmo.
Edson – Ele andava disfarçado?
Carlos – Com aquela peruca indecente que ele usava. Aí eu dizia:
“Com essa peruca não dá” (risos). Ele gostava. Batia assim e a peruca
levantava.