marighella

(Ornilo Alves da Costa Jr) #1
306 CARLOS, A FACE OCULTA DE MARIGHELLA

Carlos – Nós que adquirimos um grau de consciência daquela
ocasião, nós estávamos certos, por quê? Porque, naquele momento
histórico, as reformas que vinham inspiradas, mais ou menos, nas
reformas de base de Jango, veio o golpe para interromper aquilo,
daí a nossa luta pela derrubada da ditadura, pela instalação de um
governo popular, democrático e revolucionário. Isso colocaria, na
ordem do dia, o Brasil como uma nação independente: reforma agrá-
ria, urbana, administrativa, dentro de um contexto de nação-povo,
com a participação da população. O Brasil com sua geografia, com
sua população, com sua inserção na América Latina – você não vê o
exemplo de Cuba, até hoje resiste – teria condições de sobra de ser
uma nação independente. Acho que nós, conscientes nos deparamos
com uma situação dessas naquele momento e fizemos essa opção,
opção correta. Cumprimos o nosso dever naquele momento histórico.
Acho que nossa visão naquela época era correta. Evitar que o Brasil
enveredasse pelo caminho que se enveredou, da injustiça social e da
submissão ao estrangeiro.


Edson – Outra dúvida que eu tenho é sobre as cápsulas de cia-
nureto. Houve alguma orientação para o uso?
Carlos – Houve, mas o pessoal daqui do Rio não entrou nessa
história não. Nós não concordamos com isso. Lá em São Paulo teve
essa conversa, conversa não, na hora de fazer essas cápsulas, pior ou
melhor, a pessoa que fez – isso é uma história que contam, não sei
se foi checado – deu um arrependimento e ela botou uma dose que
não era letal. O cara passava muito mal, o que é ruim, pois, passando
mal, você já fica meio combalido e não morria, e depois de colocar
aquilo na língua ia para a tortura. Não funcionou. Era melhor não
ter nada e no mais morrer. Mas que era um lance, por exemplo, para
o pessoal de liderança mesmo maior, podia ser uma medida: como
que vai encarar a tortura? Tortura é foda.

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