EDSON TEIXEIRA DA SILVA JUNIOR 315
Jacob – Ele era um homem convencido da doutrina comunista e
tinha resolvido desde a juventude se dedicar a ela, e era um homem
de grande integridade pessoal, eram as qualidades que ele tinha,
uma enorme coragem, uma fibra extraordinária, nesse ponto ele era
realmente inigualável e foi assim até morrer.
Edson – Quando em 1956 revela-se os crimes de Stalin, no 20º
Congresso do PCUS, não sei se você teve contato com o Marighella
nesse momento, mas qual foi a reação dele ao saber do relatório do
Kruschev?
Jacob – Eu pessoalmente não posso lhe falar sobre isso, porque
eu estava em Moscou quando o Kruschev pronunciou e alguns
meses depois foi publicado pelo Estado de S. Paulo. Agora o que me
disseram é que o relatório foi publicado aqui no Brasil, e a reação de
alguns dirigentes – eu vim a saber depois, eu não estava aqui – foi
a de achar que aquilo era apócrifo, era um documento falsificado.
Mas daí o Diógenes Arruda, o pai do Marcucha, estava também no
exterior e voltou em junho de 1956, o relatório foi proferido em
fevereiro. E, então, o Arruda disse que aquilo era verdade, que o
relatório era verdadeiro. O que me contam, o que foi assentido, é
que houve uma reunião do Comitê Central e o Marighella chorou,
chegou a chorar quando foi confirmada a autenticidade do relatório.
Ele era tão apegado à figura de Stalin, é próprio da geração dele, que
aquilo foi chocante para ele.
Edson – E a sua interpretação sobre esse episódio?
Jacob – Está no meu livro. Eu estava em Moscou e já estava
percebendo muita coisa errada e ruim que estava se passando, mas
aquilo foi, frente ao mundo inteiro, um grande choque. As coisas
erradas, os ciúmes, que na ordem que o Kruschev denunciou, foi só
uma parte, depois foram sendo reveladas muitas outras coisas, mas
mesmo só aquilo era algo de terrível.