324 CARLOS, A FACE OCULTA DE MARIGHELLA
Roberto – Era superdifícil. Eu me lembro que para você conseguir
um livro era superdifícil, você tinha que ir na livraria ali na praça
da República, um cara perseguido, era fechado, prendiam o cara, já
naquela época, em 1962.
Edson – E na faculdade, quando você entra na faculdade, como
vai ser sua trajetória?
Roberto – Eu entrei em janeiro de 1963 na faculdade. Eu saí da
JEC e fui para a JUC, que era a Juventude Universitária Católica,
que era muito mais politizada do que a JEC, já estava numa eferves-
cência, aquele negócio do Brasil, do governo Jango, pegava muito o
pessoal, aquela radicalização, a gente vivia muito isso lá no Macken-
zie, o radicalismo era grande, a direita era muito forte, a Faculdade
de Arquitetura se dizia comunista e a Faculdade de Engenharia no
meio de tudo isso, as outras faculdades, a Faculdade de Economia,
por exemplo, eram mais alienados, a gente ia buscar, mas era sempre
difícil de achar. Nessa efervescência toda foi radicalizando o nosso
movimento. Eu logo fui eleito representante dos alunos no 1º ano da
Escola de Engenharia para fazer parte do Centro Acadêmico Horácio
Lane. O presidente do centro acadêmico era da JUC, o secretário era
da JUC, depois o sucessor também era da JUC, era um grupo muito
forte, daí que eu fui ficando mais politizado mesmo.
Edson – Quais eram as reivindicações que vocês tinham?
Roberto – A primeira reivindicação, em 1963, sabe o que era?
A federalização do Mackenzie. Naquele tempo o Paulo de Tarso
Santos era ministro da educação, isso marcou muito a minha vida,
o Mackenzie é da igreja presbiteriana, os pastores que orientavam
eram todos estadunidenses, a casa que eles moravam era na Alameda
Jaú, quase esquina com o parque Trianon, mas eles eram liberais.
Esse negócio da federalização pegou muito firme mesmo, mas tam-
bém dividiu muito, porque a direita não queria e a esquerda queria