marighella

(Ornilo Alves da Costa Jr) #1
42 CARLOS, A FACE OCULTA DE MARIGHELLA

sobrenome ficava difícil. Posteriormente, fez uma prova para tele-
fonista. O rendimento no exame foi satisfatório. Tereza Marighella
foi chamada para a entrevista, preencheu a ficha de inscrição e foi
orientada para aguardar um comunicado, que confirmaria a negativa.
Mesmo quando professora de português – Tereza complementou
seus estudos no Rio de Janeiro, na Suam, formou-se em Português e
Literatura – do presídio Esmeraldino Bandeira, na década de 1970,
o dia de pagamento era um constrangimento. Os bancos não pos-
suíam a tecnologia de hoje, o pagamento era na base da listagem e
da fila – por sinal, as filas ainda continuam. Tereza Marighella tinha
seu nome chamado, o relato é dela mesma: “todos me olhavam meio
espantados, dava uma vergonha, dava uma vontade de chorar”.^47
Marighella já não era o simples “Carrinho” de Salvador, já tinha uma
sólida carreira política, foi preso, resistiu às prisões, foi deputado cons-
tituinte em 1946 e, em 1967, liderou o racha do Partido Comunista
em São Paulo e partiu para a ação armada contra a ditadura militar.
Parodiando o próprio Marighella: a injustiça também está presente
na voz da história. Isso é matéria para mais adiante.
Por hora, retornemos a uma análise final sobre a infância e a
adolescência do personagem na Bahia. Podemos verificar que a
impetuosidade é uma característica inerente a qualquer indivíduo,
seja no cotidiano, seja no engajamento político, enfim, em várias
circunstâncias. Entretanto, no caso de Carlos Marighella, na infância
podemos reter alguns indícios dessa impetuosidade, como exemplo:
as fugas constantes e o interesse precoce pela leitura. Na adolescência,
esse ímpeto é mais direcionado, as provas em versos e os protestos
no Ginásio da Bahia, bem como o episódio em que negocia com o
pai a chuteira ou a botina, a alfabetização desenvolvida na Barão do
Desterro. À medida que sua inserção num espaço social maior se
acentua, essa impetuosidade que Marighella traz como característica


(^47) Cf. depoimento de Tereza Marighella.

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