marighella

(Ornilo Alves da Costa Jr) #1
44 CARLOS, A FACE OCULTA DE MARIGHELLA

sepultamento de Carlos Marighella ignorando a posição da família.
Na cova rasa, número 1106, do Cemitério de Vila Formosa, todo cui-
dado era pouco. Uma equipe composta de 12 policiais armados com
metralhadoras acompanharam o cortejo fúnebre. A cova em que foi
enterrado Marighella não tinha cruz nem vela, algo que acontecia mes-
mo com indigentes.^49 O aparato policial, certamente, temia qualquer
ato da Ação Libertadora Nacional em resgatar o corpo. Ressuscitar
é que Marighella não podia, apesar dos muitos mitos ligados a sua
pessoa, às vezes causados pela própria valentia que demonstrara no
entrevero com policiais. Dias depois chegaram ao cemitério o filho de
Marighella, Carlos Augusto, e o irmão e também afilhado, Caetano.
Vinham da Bahia para prestar a primeira homenagem. Foi um ato
singelo, vivia-se o tempo da ditadura civil-militar e o que valia naquele
instante era a presença do irmão e do filho como representantes dos
familiares. Carlinhos, como é conhecido o filho de Carlos Marighella,
providenciou flores e uma cruz de cimento para o túmulo. Era apenas
um gesto, um primeiro passo para o que viria marcar, dez anos mais
tarde, a obstinação pela memória do líder comunista.
Em 1979, no desenrolar da Lei de Anistia aprovada no Congresso
Nacional, retornaram do exílio para o Brasil muitos militantes. Entre
eles Clara Charf. Daí em diante, Clara e Carlos Augusto se unem na
tarefa incansável de recuperar a imagem de Marighella. No mesmo
ano de 1979, o corpo é transladado para a Bahia, para o Cemitério
de Quintas, em Salvador. Antes foi motivo de um ato público no
Sindicato dos Engenheiros, em São Paulo. Todos os anos seguintes,
na medida do possível, Clara e Carlinhos promovem eventos com o
mesmo objetivo. Um fato considerável foi a vitória na Comissão dos
Mortos e Desaparecidos durante o período da ditadura militar, criada


(^49) Jornal da Tarde, São Paulo, 07.11.1969. Durante a ditadura militar era comum o
sepultamento de militantes políticos tratados como indigentes. Trata-se de uma
medida que visava dificultar a localização dos corpos e ao mesmo tempo serviria para
isentar a repressão política dos crimes cometidos.

Free download pdf