marighella

(Ornilo Alves da Costa Jr) #1
46 CARLOS, A FACE OCULTA DE MARIGHELLA

repostos com maior abrangência. Para concluir, parcialmente, uma
análise sobre os caminhos da abordagem biográfica e a sua relação com
o personagem Carlos Marighella ao longo da sua trajetória política.
O romance entre Clara Charf e Carlos Marighella se iniciou na
segunda metade da década de 1940, exatamente, em 1948. Tanto
Clara quanto Marighella pertenciam ao Partido Comunista. Am-
bos com trajetórias díspares que acabaram se encontrando. Clara
descendia de família judaica. O pai Gdal Charf e a mãe, Esther
Charf, eram da Ucrânia, da região de Odessa. Gdal se instalara, na
década de 1930, em Alagoas, na capital Maceió, onde desenvolvia a
atividade de mascate. Logo percebeu que as possibilidades em Recife
seriam mais promissoras do que em Maceió. Em 1942, a família
Charf se transferiu para a Pernambuco. Clara, os pais e os irmãos
Sara e Abraão. Em Alagoas, Clara presenciou algumas manifesta-
ções de oposição ao nazismo, ia despertando assim seu interesse por
política. Em Recife, com a morte da mãe, foi obrigada a abandonar
os estudos e começou a trabalhar. O sonho de ser médica esbarrava
nas circunstâncias da vida. Entre 1942 e 1945, foi trabalhar na base
naval estadunidense, em Recife, como datilógrafa copista. Graças ao
incentivo da mãe, ela havia estudado inglês e datilografia, fato que a
ajudou a garantir o emprego. A aproximação com o Partido Comu-
nista ocorreu quando, na conjuntura nacional, o Partido passou a
atuar na legalidade, insuflado pelo papel desempenhado pela União
Soviética na derrota imposta ao nazifascismo. Entrou para o Partido
e atuou na Associação de Mulheres. A noção de comunismo ainda
não era embasada teoricamente. Pesava a sensibilidade das dificul-
dades da própria vida da família, marcada pelos limites de uma vida
dura e de muita batalha, como a própria situação a sua volta, e um
olhar atento às injustiças sociais no Recife. Em 1945, se transferiu
para o Rio de Janeiro, convenceu Gdal e passou a morar com Sarah
Shurt, tia materna. Além de médica, desejava ser aviadora, via nessa
profissão alguma identificação com a liberdade. Mas, naquela época

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