marighella

(Ornilo Alves da Costa Jr) #1
66 CARLOS, A FACE OCULTA DE MARIGHELLA

No Presídio Especial, o homem que na década de 1960 seria
qualificado pela propaganda oficial da ditadura militar como o chefe
do terror deu o seu relato:


As torturas a que fui submetido foram as seguintes: depois de murros e
pontapés e outros golpes que me aplicaram, fui queimado por todo o corpo
com pontas de cigarros que os próprios investigadores estavam fumando.
Além disso, o investigador Galvão tirou seu alfinete de gravata, que enfiou
debaixo de minhas unhas, deixando-as em sangue. Reuniram-se todos e,
através dos golpes chamados ‘chave de braço’, fui levado ao chão várias
vezes, o que me produziu um ferimento na testa como se pode verificar
pela cicatriz que apresento. Na Polícia Especial, o espancamento durou até
a madrugada. Cheguei lá mais ou menos às 7 ou 8 horas da noite, e só de
madrugada suspenderam o que chamavam de sessão espírita.^79
Marighella retornou mais vezes para as estranhas “sessões es-
píritas”; o exaustivo relato de sua prisão é um exemplo de como a
repressão política foi desencadeada na história política do país. Essa
constatação contribui para melhor análise sobre a trajetória de um
militante comunista e o cerceamento a que estava sujeito. No seu
relato perante a Comissão de Inquérito, Marighella detalhou todos
os passos seguidos pela polícia política, um detalhe curioso é que ele
não se abateu e procurou mesmo agredir seus carrascos:


o Sr. Emílio Romano deu ordem, diante do fato de que eu procurava reagir
aos espancamentos, para que eu fosse algemado. E, assim, com as mãos
para traz e deitado de bruços na cama, fui espancado a canos de borracha
que me atingiram as costas, as nádegas e as solas dos pés.^80
O motivo das torturas, além do fato de ser comunista, era a reve-
lação do nome dos destinatários das cartas em poder de Marighella
quando foi preso. Ele mesmo ignorava o nome dos destinatários; como


(^79) Idem, p.11.
(^80) Idem, p. 13.

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