marighella

(Ornilo Alves da Costa Jr) #1
EDSON TEIXEIRA DA SILVA JUNIOR 65

já fui torturado a frio, no mesmo Dops de hoje e na antiga Polícia Espe-
cial! Isso foi em consequência da derrota do movimento armado de 1935,
desencadeado pela Aliança Nacional Libertadora. Embora eu não tivesse
participado desse movimento, e mesmo sem jamais ter sido militar em
minha vida, fui preso por atividades subversivas. A tortura a frio por que
passei então no cárcere, sob a vigência da ditadura de Getúlio Vargas e
Felinto Müller, ensinaram-me que é melhor mil vezes morrer lutando com
os policiais do que permitir-lhes que supliciem o preso imobilizado e sem
poder oferecer resistência”.^77
Em 1936, já não era apenas o estudante da prova em versos, já era
um militante de destaque. Nota-se que Marighella afirmou não ter
participado da Aliança Nacional, em 1935; essa informação deve ser
compreendida como uma participação direta nos acontecimentos, o
que não o afasta por completo como membro do Partido.
A prisão no Rio de Janeiro é novamente citada numa sessão do
Congresso Nacional, de 21 de agosto de 1947, na Comissão de In-
quérito sobre os atos delituosos da Ditadura do Estado Novo:


no dia 1º de maio de 1936, por volta das 6 horas da manhã, eu me dirigia
para uma casa sita na Ladeira do Castro, não me recordo agora o número,
à procura de um amigo cujo nome também não retive por completo – o
farmacêutico Taciano – e, ao bater na porta de seu quarto, fui surpreendido
com a presença de investigadores que lá se encontravam. A porta foi aberta,
naturalmente entrei e os investigadores me agarraram, tiraram o cinto, os
suspensórios e me fizeram descer, ainda agarrado pelo cós das calças, pela
Ladeira do Castro, acompanhado dos tiras, até um automóvel parado na
Rua do Riachuelo.^78

(^77) MARIGHELLA, Carlos. Por que resisti à prisão. Op. cit., p. 37.
(^78) Comissão de Inquérito sobre Atos Delituosos da Ditadura. Ata de 21.08.1947.
O Estudante Marighella nas prisões do Estado Novo. RJ: Editorial Vitória Ltda.,
1948.

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