REVISTA FEVEREIRO

(MARINA MARINO) #1

No dia a dia é comum


confrontarem-se opiniões absolu-
tamente antagônicas sobre um
mesmo assunto. Aliás, nas lides
forensesissoécorriqueiro.
Como consequência, é natural
que um dos lados prevaleça, seja
porque é o mais forte, seja porque
estáprotegidopelodireito.
Sendo assim, jurava que
nenhuma outra hipótese seria
suficiente para me deixar
impressionadooudescontente.
No entanto, ontem à noite,
quando assistia à televisão, acabei
mordendoalíngua...
Era umdocumentário sobre o
posicionamentodeváriosescritores,
atuais e do passado, acerca da
esperança.
Dois deles me chamaram a
atenção,vistoquebempoderiamser
escolhidos os representantes
daqueleantagonismo.


Por mais paradoxal que seja,
apesar do seu Amor deperdição e de
tersucumbidoàstentaçõesdosuicídio,
oextremopositivoeraencabeçadopor
CamiloCasteloBranco, queproclamou
“Bendita seja a esperança, filha dos
céus,eternocânticodosanjos.”
Nopolonegativo,eadespeitode
sermuitoconhecidoourubuagourento
de Augusto dos Anjos, foi José Maria
Goulart de Andrade quem mais me
impressionou ao dizer “Esperança, és
um mal que prolonga a agrura dos
vencidosdavida”.
Mas se é verdade que não me
sentia impressionado quando o
documentário acabou, e desliguei a
televisão, não menos exata é a
afirmação de que estava bastante
descontente.
O motivo? O lado para o qual
pendeuamaioriadaquelesescritores.
Ora, se nem Dante, quando
percorria o purgatório, ouviu do seu
guia-poeta, Virgílio,no Canto VI,deA
divina comédia, que seria vã a
esperança das almas que ali
perambulavam pedindo preces, por
quenos temposdemaiorluz,emque
até olimbo foi revogado,comoquis o
papa Bento XVI, aquelaque “...nunca
abandonou o infeliz que a procura”
(Beaumont e Fletcher) seria a opção
menos prestigiada por aqueles
literatos?
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