Delineando a pesquisa clínica 4a Ed

(AlbertoBarroso) #1

de torneira está associado com um risco diferente – aumentado ou
diminuído – de desenvolver úlcera péptica do que tomar água mineral”.
As hipóteses unilaterais poderiam ser apropriadas em determinadas
circunstâncias, como quando apenas uma direção para uma associação é
clinicamente importante ou biologicamente significativa. Um exemplo
desse caso é quando se testa se um novo medicamento para hipertensão
tem maior probabilidade de causar erupções cutâneas do que o placebo,
não interessando a possibilidade de o medicamento causar menos
erupções cutâneas (mas esse poderia ser o caso se o medicamento tivesse
propriedades anti-inflamatórias). Outro caso adequado ao uso de uma
hipótese unilateral é quando há evidências fortes em estudos anteriores de
que uma associação em uma das duas direções é improvável, como uma
hipótese sobre se o fumo de cigarros afeta o risco de câncer cerebral.
Nesse caso, a hipótese unilateral é justificada por evidências anteriores
sobre a baixa probabilidade de o fumo diminuir a incidência de câncer
cerebral, uma vez que o fumo aumenta o risco de vários tipos de câncer.
No entanto, é importante atentar para o fato de que muitas hipóteses bem-
embasadas se enfraquecem quando testadas por ensaios clínicos
randomizados. Dois exemplos disso são as seguintes hipóteses a priori: a
terapia com β-caroteno reduz o risco de câncer de pulmão, e o tratamento
para redução de extrassístoles ventriculares reduz a morte súbita em
pacientes com arritmias ventriculares. Nesses dois exemplos, resultados
de ensaios clínicos randomizados bem-conduzidos revelaram um efeito
estatisticamente significativo que teve direção oposta ao que os
investigadores esperavam encontrar (1-3). De maneira geral, acreditamos
que a maioria das hipóteses alternativas deveriam ser bilaterais.
No entanto, é importante ter em mente a diferença entre a hipótese de
pesquisa, geralmente unilateral, e a hipótese alternativa, usada no
planejamento do tamanho da amostra, que é quase sempre bilateral. Por
exemplo, considere a questão de pesquisa sobre se o uso recorrente de
antibióticos na infância aumenta o risco de doença inflamatória intestinal.
Essa hipótese antecipa a direção do efeito, portanto é unilateral. Por que,
então, usar uma hipótese alternativa bilateral ao planejar o tamanho de
amostra? A resposta é que, na maioria das vezes, ambos os lados da
hipótese alternativa (i. e., maior ou menor risco) são interessantes,
havendo interesse em publicar os resultados, independentemente da

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