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(Antfer) #1

M.B. - A FACE ECONÔMICA DA NECROPOLÍTICA


Banco Central do Brasil

Revista Época/Nacional - Colunistas
sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021
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Autor: Monica de Bolle


Foram mais de 1.000 mortos por dia por causa da
Covid-19 no Brasil, segundo a média móvel de sete
dias. Apenas no dia 9 de fevereiro foram quase 2 mil


mortes em 24 horas. Duas mil mortes em 24 horas são
mais de 80 mortes por hora, o que equivale a mais de
uma morte por minuto. Como números num papel não
dão a experiência do tempo, convido o leitor a parar o
que estiver fazendo agora e olhar o ponteiro dos
segundos de um relógio, ou acionar o alarme do
telefone. Deixe passar 60 segundos e pense: “Aqui,
agora, enquanto eu nada faço além de esperar o tempo
passar, mais de uma pessoa morreu de Covid no país”.
Agora, considere: hoje é dia 12 de fevereiro e seria
sexta-feira de Carnaval. Desde 31 de dezembro não
temos auxílio emergencial ou orçamento para a Saúde.
Mas temos discussão no Congresso sobre a autonomia
do Banco Central.

Sei que há muitos indignados no Brasil. Sei também
que, de modo geral, as pessoas no Brasil não têm o
costume de olhar para o que está acontecendo no resto
do mundo. Mas se o fizessem constatariam que o Brasil
é dos únicos países que, em meio a uma severa crise
humanitária, com variantes perigosas do vírus
circulando em seu espaço, coloca em pauta tema
arcano de política monetária como se prioritário fosse.
Como se isso não bastasse, tem o único governo que,
neste momento, tenta enfraquecer sua própria
economia “argentinizando-se”. Explico. Paulo Guedes e
sua equipe querem que contas bancárias possam ser
abertas em dólar no Brasil, instituindo um sistema
bimonetário. É uma história com desfecho conhecido.
Foi desse modo exato que teve início o processo de
dolarização da economia argentina, há mais de 40 anos.
De lá para cá, o país sofreu inúmeras crises
econômicas, várias delas, se não todas, decorrentes da
vulnerabilidade provocada por ter um sistema
bimonetário. Não há qualquer benefício na dolarização
parcial que supere seus riscos. Quando a economia de
um país passa a ser dependente de uma moeda que ele
não é capaz de emitir, escancara as portas para a
vulnerabilidade externa e para a volatilidade cambial.
Trata-se de medida com alto potencial destrutivo,
conforme testemunhei em meus anos de Fundo
Monetário Internacional, onde trabalhei na crise da
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