Banco Central do Brasil
Revista Carta Capital/Nacional - Seu País
sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021
Banco Central - Perfil 2 - Agências reguladoras
enfrentar uma terceira onda ainda em 2021. É
necessária uma fiscalização forte da polícia para
garantir o fechamento do comércio”, alertou o biólogo
Lucas Ferrante, doutorando do Instituto Nacional de
Pesquisas da Amazônia e um dos autores do estudo.
Para agravar o cenário, a campanha de imunização
contra o Coronavírus caminha a passos de tartaruga.
Até a manhã da terça-feira 9, foram aplicados 3,6
milhões de doses de vacinas no País, revela o site Our
World in Data, criado por pesquisadores da
Universidade de Oxford. No ranking mundial, o Brasil
figurava na longínqua 45ª colocação, com apenas 1,7%
da população imunizada com a primeira dose.
O Instituto Butantan e a Fiocruz continuam com
dificuldade para ter acesso a insumos importados da
China e da Índia, utilizados na produção nacional da
CoronaVac e da vacina Oxford/AstraZeneca, as únicas
que tiveram o uso emergencial autorizado pela Agência
Nacional de Vigilância Sanitária. Em decorrência disso,
o órgão tem sofrido uma pressão sem precedentes para
liberar a toque de caixa outros imunizantes. Na quinta-
feira 4, o Congresso aprovou uma alteração na Medida
Provisória 1.003, de 2020, com a inclusão de um trecho
que fixa o prazo de cinco dias para a Anvisa autorizar o
uso de vacinas aprovadas por agências reguladoras
de oito países (Estados Unidos, Reino Unido, Canadá,
Japão, China, Coreia do Sul, Rússia e Argentina) e da
União Europeia. O resultado da votação parece a
confirmação de uma ameaça feita horas antes por
Ricardo Barros, do PP, líder do governo na Câmara dos
Deputados. “O que eu apresentar para enquadrar a
Anvisa passa aqui feito um rojão.” Dito e feito. O prazo
foi incluído no texto da MP ainda na Câmara e acabou
mantido pelos senadores.
Por trás da movimentação figura o poderoso lobby da
União Química, que assinou um acordo com o Fundo
Russo de Investimento Direto para produzir a vacina
Sputnik V no Brasil. Rogério Rosso, ex-governador do
Distrito Federal e ex-deputado, agora é diretor de
Negócios Estrangeiros da indústria farmacêutica. Filiado
ao PSD, ele chegou a presidir a Comissão Especial do
Impeachment de Dilma Rousseff e a disputar a
Presidência da Câmara em 2016, com apoio de
Eduardo Cunha, o grande articulador do “Blocão”,
consórcio de legendas fisiológicas criado em 2014 para
chantagear a gestão petista, depois rebatizado de
“Centrão”. Recentemente, a União Química também
contratou Fernando Mendes, que presidiu a Anvisa por
quase cinco anos, de outubro de 2015 a março de 2020.
O executivo assumiu o cargo de diretor de Relações
Institucionais da empresa após cumprir a quarentena de
seis meses, exigida de ex-diretores da agência
reguladora.
Desenvolvida pelo Instituto Gamaleya, de Moscou, a
Sputnik V foi a única vacina a ter o pedido de uso
emergencial recusado pela Anvisa, em meados de
janeiro. Entre os motivos apontados para a recusa
figurava a ausência de ensaios clínicos realizados no
Brasil. A União Química chegou a protocolar, em
dezembro, um pedido para iniciar os testes com
brasileiros, mas a solicitação foi negada, devido à falta
de informações detalhadas sobre o protocolo do estudo,
como o perfil dos voluntários e o método usado para
avaliar a sua segurança e eficácia.
Na verdade, há tempos a Sputnik V é alvo da
desconfiança de especialistas em todo o mundo, pois o
presidente Vladimir Putin autorizou seu uso na Rússia
ainda em agosto, quando a fase três da pesquisa dava
os primeiros passos. Trata-se justamente da etapa na
qual o imunizante é testado em grupos populacionais
maiores. Em dezembro, as autoridades russas
anunciaram que a vacina tinha 91% de eficácia. Os
dados só foram validados por uma publicação científica
em 2 de fevereiro, quando a revista britânica The Lancet
confirmou que o imunizante é seguro e eficaz em 91,6%
dos casos. Ainda assim, pairam dúvidas sobre os dados
divulgados.
“O estudo publicado não está completo, trata-se de uma
análise preliminar. Os ensaios clínicos envolvem cerca
de 40 mil voluntários, mas só apresentaram os